“Entregando a Satanás”
Quando em 1Coríntios 5 Paulo falou sobre “Entregar alguém a Satanás para a destruição da carne”, isso significa muita coisa.
Primeiro, significa que Paulo, como apóstolo aos coríntios, tinha autoridade sobre as decisões tomadas naquela comunidade cristã. Embora Paulo não fosse apóstolo para outros, certamente ele o era para os irmãos de Corinto (1 Coríntios 9.1,2, 1Coríntios 4.15). Ele se esforçava para não edificar sobre “fundamento alheio”, mas ele tinha liberdade para exercer sua autoridade sobre aqueles que estavam dentro da esfera de ação que Deus lhe havia delimitado (Romanos 15.20, 2Coríntios 10.13–16). Em outras palavras, Paulo não poderia decidir algo parecido a respeito de um membro da Igreja em Jerusalém, na qual ele não era líder; da qual, eram colunas ministirais os apóstolos Pedro, Tiago e João.
Em segundo lugar, sugerir que o homem fosse “entregue a Satanás para destruição da carne” significa que ele tinha em mente a morte física prematura daquele homem. Outro ponto importante é que Paulo disse que desejava a morte física do homem (a destruição da sua carne), afim de que “o espírito dele fosse salvo no dia de Cristo”. Ou seja, uma coisa dependia da outra. Se ele continuasse vivo, agindo como agia, corria o risco de seu espírito não estar salvo no Dia de Cristo; porém, se houvesse a morte física prematura, isso possiblitaria que seu espírito continuasse salvo para o dia do Senhor. Observe também que o texto NÃO DIZ que “mesmo que ele morresse fisicamente, seu espírito continuaria salvo para sempre”, muito pelo contrário. O texto está afirmando que o homem tinha que morrer fisicamente AFIM DE QUE seu espírito fosse salvo! Uma coisa dependia da outra! Paulo parecia temer que se ele continuasse vivendo desregradamente, “descendo na banguela do pecado” do jeito que ia, ele chegaria ao ponto em que perderia sua salvação.
Outra coisa importante a ser observada é que, até aquele momento, o homem ainda estava espiritualmente vivo, mesmo estando comentendo tal pecado, e é justamente por isso, que, Paulo, preocupado com a sua salvação, acredita ser melhor entregá-lo a Satanás, o que lhe causaria sua morte física prematura.
É importante ressaltar que embora Satanás seja mencionado como agente causador da morte física do homem, lembre-se que Paulo disse que aquilo deveria ser feito “em nome de Jesus”. Resumidadmente, Paulo disse: “Eu já sentenciei que o autor de tal infâmia seja, em nome de Jesus, entregue a Satanás” (1Coríntios 5.3–5). Isso significa que a despeito dos detalhes da possível morte do homem, aquilo deveria acontecer como consequência de um juízo divino. Entregar o homem a Satanás “em nome de Jesus” significava fazer aquilo como representante de Cristo, significava fazer o que o próprio Cristo faria. Em 1 Coríntios 11 Paulo diz basicamente a mesma coisa, ainda que o contexto de pecado seja diferente: “Eis a razão porque há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos que dormem. Porque, se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas, quando julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo” (1Coríntios 11.38–32). Algumas vezes a morte física prematura de um crente é uma discplina divina para que tal pessoa não receba a mesma condenação espiritual destinada ao mundo, ou seja, afim de que, mesmo morrendo fisicamente, seu espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus.
Lembre-se que o Novo Testamento ensina que Deus mata e ainda tem autoridade para lançar a pessoa no inferno (Lucas 12.5). Jesus repreendeu os irmãos da Igreja em Tiatira por tolerarem que certa mulher ensinasse os servos de Cristo a praticarem a prostituição e a comerem coisas sacrificadas aos ídolos. Jesus disse que “deu-lhe tempo para que se arrependesse, todavia, ela não quis arrepender-se”, então, Jesus disse que “a prostraria numa cama e que mataria seus discípulos, e assim, todas as igrejas conheceriam que ele sonda mentes e corações, e que retribui a cada um segundo suas obras” (Apocalipse 2.20–23).
O homem de primeira coríntios 5, até o momento da carta de Paulo, ainda não tinha morrido espiritualmente, mesmo que estivesse praticando aquele tipo de pecado. Paulo, porém, preocupado com sua salvação, demonstra preferir que ele morresse fisicamente, do que continuar vivo fisicamente e viesse a morrer espiritualmente. Se o homem continuasse vivo fisicamente, ele poderia morrer espiritualmente, mas se ele morresse fisicamente, poderia continuar vivo espiritualmente. Na verdade, o contexto demonstra uma espécie de “preocupação tríplice” da parte de Paulo:
- Preocupação com o testemunho para com os de fora;
- Preocupação com a possível proliferação do pecado na igreja;
- Preocupação com a morte espiritual do homem em questão.
Paulo menciona que alguns irmãos de Corinto estavam praticando pecados que nem mesmo o povo de fora praticava. Por causa disso, em vez da Igreja em Corinto ser sal e luz, ela estava na vanguarda da imoralidade, dando assim um mal exemplo para os de fora (1Coríntios 5.1). Em segundo lugar, ele também menciona que pecados dessa natureza, quando tolerados na comunidade cristã, fariam com que o comportamento imoral se proliferasse. Ele disse que “um pouco de fermento leveda toda a massa, por isso, lançai fora o velho fermento, para que sejais massa fresca, como sois em Cristo, sem fermento” (1Coríntios 5.6,7). Por último, Paulo estava preocupado com o próprio homem em si, ou seja, aquela medida deveria ser tomada afim de que “seu espírito fosse salvo no dia de Cristo” (1Coríntios 5.2–5).