SALVAÇÃO, PECADO, JUÍZO E ARREBATAMENTO
A salvação, de fato, é um processo e envolve o nosso passado, presente e futuro, da mesma forma como engloba nosso espírito, alma e corpo. O problema, porém, é que muitos se confundem quanto à “mecânica” da salvação. Alguns se atrapalham com os textos que ensinam sobre santidade e chegam a pensar que a salvação vai depender dos méritos de cada um. Outros, admirados com a profundidade dos textos sobre graça e misericórdia, desprezam a importância da santificação, do arrependimento e da confissão de pecados. A verdade é que as Escrituras ensinam sobre salvação pela graça, por meio da fé, sem qualquer relação com as obras. Como descobriu Davi: “Bem-aventurado aquele a quem Deus atribui justiça, independentemente de obras” (Rm 4.6), pois “ao que trabalha, o salário não é considerado como um favor, e sim, como dívida. Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, sua fé lhe é atribuída como justiça” (Rm 4.4,5). Nenhum homem é salvo porque primeiro para de pecar para ser agraciado com a justificação que dá vida. Da mesma forma, nenhum salvo, que já confessou Jesus, perderá a salvação por cometer algum pecado durante sua vida cristã. Não fomos salvos por pararmos de pecar, não perderemos a salvação necessariamente porque pecamos. Embora uma vida de pecados possa conduzir à perda da salvação, não é uma coisa fácil de acontecer, e não se perde a salvação a cada pecado cometido. Se não fosse assim, todo pecado que um crente comete ele teria o seu nome riscado do livro da vida e a cada novo arrependimento e confissão de pecado, ele teria o seu nome escrito de volta no livro mais uma vez. Não é isso o que as Escrituras ensinam, além de ser uma grande tolice.
Se um crente comer uma bola a mais de sorvete, praticando a glutonaria e acidentalmente morrer sem dar tempo de confessar seu erro, ele vai para o inferno por causa disso? Claro que não. Nem mesmo um pai humano, que é mau, se comparado ao Pai que está no céus, deixaria de perdoar seu filho que errou com ele, caso o filho morresse em algum acidente sem ter tido tempo de fazer as pazes com o pai. Com isso não quero dizer que não há pecados mais graves que outros, até porque um ladrão que atira na cabeça de um adolescente para roubar um celular, estará praticando um crime infinitamente maior do que aquele cometido pelo crente que baixa um livro pirata da internet, muito embora as duas coisas sejam erradas.
O fato é que, em tratando-se de “pecado para morte”, se a morte em questão for uma morte espiritual, ter o nome riscado do livro da vida, esse pecado deve ser o oposto daquilo através do que obtemos a salvação. O homem de Primeira Coríntios cinco estava tendo relações sexuais com a mulher do pai e Paulo disse que estava preocupado com ele, e preferia que ele morresse fisicamente mais cedo, para que não perdesse a salvação mais tarde (1Co 5.1-5). Se formos infiéis, Deus permanecerá fiel, pois de maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo. Porém, se o negarmos, por sua vez, ele nos negará (2Tm 2.13,12). Em outras palavras, todo aquele que confessa o nome de Jesus diante dos homens, terá seu nome confessado diante do Pai, mas todo aquele que negar o nome de Jesus diante dos homens, terá o seu nome negado diante do Pai (Mt 10.32,33).
Sim, é possível perder a salvação, e, consequentemente, se a pessoa ainda estiver viva na ocasião do arrebatamento, ele perderá o arrebatamento, pois o arrebatamento levará apenas os salvos, sejam carnais, sejam espirituais; tenham eles morrido ou estejam eles vivos. Todos os salvos, os que estiverem em Cristo, mortos e vivos, serão afetados positivamente naquela ocasião. Os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro, e os vivos (em Cristo), serão transformados. Se, porém, um cristão parece estar vivo, mas, na verdade, está morto, obviamente ele já não está mais salvo, pois, nesse caso, ele já teve seu nome riscado do livro da vida. Para estes, a experiência com Cristo será como a visita de um ladrão no meio da noite, pois neste caso específico, o Senhor virá “contra esta pessoa” e não “para esta pessoa” (Ap 3.1-6).
Negar a Cristo e perder a salvação não é tão fácil como alguns crentes gostariam que fosse. Embora alguns crentes possam cometer pecado e até morrer mais cedo como consequência de um juízo divino, isso não é a mesma coisa de “perder a salvação”, e, sendo assim, jamais poderia significar a perda do arrebatamento; até porque o arrebatamento NÃO É mais importante que a salvação. Muitos que não entendem bem o que o Novo Testamento ensina sobre graça, justificação, salvação, pecado, juízo divino e perda de salvação, costumam ficar confusos e pensam que “se alguém for arrebatado, então esta pessoa será salva”, contudo, a lógica bíblica é exatamente o contrário: “Se alguém é salvo, obviamente que será arrebatado”.
O que falta aos crentes, de forma geral, não é uma compreensão adequada sobre o Arrebatamento, e sim a compreensão bíblica da relação entre graça e juízo, e entender a diferença entre morte física e morte espiritual como resultado de punição divina. Sim, é possível viver sem pecar, é possível andar como Jesus andou, há recursos que nos foram concedidos por Deus para que sejamos participantes da natureza divina, mas, Deus, na sua infinita graça e misericórdia, também proveu meios pelos quais o crente que pecar usufrua do perdão e da purificação de toda injustiça. Se dependêssemos apenas da vida exemplar, que, como crentes, temos condições de viver, para que assim fôssemos salvos, nenhum de nós se salvaria. Nem mesmo os cristãos mais moralistas e carrascos do nosso meio.