Orientação aos colegas Pós-Tribulacionistas
PERGUNTA
Eu já pesquisei praticamente na Bíblia toda, e fui atrás de diversos livros e autores, e não consegui encontrar uma passagem clara que comprove o pré-tribulacionismo. Por gentileza, me indique algum material explicando mais detalhadamente o pré-tribulacionismo, principalmente a questão da vinda de Cristo em duas etapas.
RESPOSTA
Amigo, não é tão difícil assim de encontrar suas respostas, mas, talvez, você esteja procurando nos lugares errados, como normalmente acontece. Há muitos fundamentos bíblicos que podem te ajudar a compreender o Arrebatamento Pré-Tribulacional. Vou deixar aqui para você uma sugestão, para o caso de você realmente ter interesse em estudar, e assim, você poder fazer sua parte.
- Quando estiver estudando, não confunda Israel com a Igreja, nem os textos proféticos ou bíblicos associados a cada um (1Co 10.32). Estude sobre o assunto e entenda que a Igreja não é o Israel de Deus, como pensam alguns. Tais pessoas pensam assim por não entenderem correetamente o texto de Gálatas 6.12,13 e 16. Os textos que apontam para a futura “Tribulação do povo de Israel” não estão fazendo referência à Igreja, tanto quanto os textos que mencionam o Arrebatamento da Igreja não estão fazendo referência à nação de Israel.
- O Arrebatamento nunca foi ensinado no Antigo Testamento, é algo novo, que só aparece no Novo Testamento. Primeiramente mencionado por Jesus e depois detalhado por Paulo. Jesus compara o período do início da Tribulação com o que aconteceu na época de Noé e Ló. As pessoas comiam, bebiam, compravam e vendiam até que, de repente, veio a destruição. Obviamente que não sem antes Deus ter provido livramento para Noé e Ló. Assim como Noé foi elevado acima das águas, a tribulação do seu tempo, e só voltou à terra depois da destruição ter terminado, e assim como o fogo só caiu sobre Sodoma e Gomorra depois que Ló foi retirado da terra, da mesma forma, a Tribulação não iniciará sem que antes os justos sejam retirados do mundo. Ao tratar sobre este futuro arrebatamento dos justos, inicialmente ensinado por Cristo, Paulo disse que “nós seremos arrebatados” (1Ts 4.17) e que “eles, os ímpios, não escaparão” (1Ts 5.3).
- Muitas palavras gregas são usadas no Novo Testamento para descrever o Arrebatamento, porém, o fato de Paulo também ter usado a palavra grega “harpazo” em 1Tessalonicenses 4.17 não pode passar despercebido, pois esta palavra só era usada (100% das vezes) em contextos de intervenção, de ação súbita e de assalto, tanto em contextos positivos, quanto em contextos negativos. Se Paulo pretendia ensinar um Arrebatamento pós-tribulacionista, não faria sentido ter usado tal palavra, pois quando Jesus vier para estabelecer o seu reino na terra, depois de toda a Tribulação, quando ele houver matado o Anticristo com o sopro da sua boca e prendido Satanás no abismo, não haverá qualquer situação de urgência que exigisse o uso da palavra “harpazo” para descrever o que Jesus fará com com a Igreja. A única justificativa plausível para o uso de tal palavra deve ser porque, imediatamente após o Arrebatamento, iniciará um tempo de angústia, como nunca houve, nem jamais haverá sobre a terra. Isto justificaria o uso da palavra que só se usava para denotar intervenção súbita, ou ação de assalto, que imprimia o caráter de urgência para aproveitar uma janela de oportunidade.
A VINDA DE CRISTO “EM DUAS ETAPAS”
Sou da opinião de que fazer referência à vinda de Cristo em “duas etapas” acaba causando mais confusão do que esclarecimento. Penso que os irmãos que se utilizam da expressão estão apenas tentando esclarecer que o Arrebatamento e a manifestação final de Cristo depois de toda Tribulação são duas coisas diferentes, e que, o Arrebatamento seria a “vinda de Cristo para os crentes”, enquanto sua manifestação final seria sua vinda visível quando todo olho o verá.
Penso que a melhor abordagem para o assunto e também para fazer esta importante diferenciação entre Arrebatamento e manifestação visível, seja traçando um paralelo entre a segunda e a primeira vinda de Cristo. Em outras palavras, da mesma forma que diversos acontecimentos tomaram parte na primeira vinda e mesmo assim, tudo fazia parte de um mesmo evento, assim também, a segunda vinda é caracterizada por diversos acontimentos em cadeia, mas são tratados pelas Escrituras como um evento único, “o Dia do Senhor”.
Primeiro, precisamos entender o que as Escrituras ensinam sobre o momento oficial da primeira vinda de Cristo. Embora Cristo tenha nascido e crescido até seus trinta anos, quando finalmente iniciará seu ministério, as Escrituras determinam que sua primeira vinda deve ser considerada a partir do Batismo de Arrependimento que João pregou. Este é o único marco considerado, ao qual a Bíblia chama de início do Evangelho. Em Atos 1.21 e 22, Pedro disse que seria necessário que um dos homens tomasse o lugar de Judas no ministério do qual ele havia se desviado, e ao estabelecer os pré-requisitos para a vaga, ele disse que tal pessoa deveria ter convivido com eles “todo o tempo em que o Senhor Jesus entrou e saiu dentre nós, començando no Batismo de João até ao dia em que ele foi elevado às alturas”. No Evangelho de Marcos está escrito que “o início do Evangelho de Jesus Cristo foi conforme havia sido dito pelo profeta Isaías, e que isto se cumpriu quando apareceu João Batista pregando Batismo de Arrependimento para remissão de pecados” (Marcos 1.1-4). O próprio Pedro, em outra ocasião, volta a fazer referência ao ponto inicial da mensagem do Evangelho em Atos 10.34-38. Ele disse: “Deus não faz acepção de pessoas, pelo contrário, em qualquer nação, aquele que o teme e faz o que é justo é aceito por Deus. Esta é a Palavra que Deus enviou aos filhos de Israel, anunciando-lhes o evangelho da paz, por meio de Jesus Cristo. Palavra esta que se divulgou por toda a Judéia, tendo começado desde a Galiléia, depois do Batismo que João pregou“. Observe que Pedro disse que a palavra começou depois do Batismo que João pregou. João, o apóstolo, também usa o mesmo raciocínio: “Quem vence o mundo, senão aquele que crê que Jesus é o filho de Deus? Este filho de Deus é aquele que veio por meio de água e sangue, obviamente que estou falando de Jesus Cristo. E ele não veio apenas por meio de água, mas também por meio do sangue”. João está simplesmente confirmando que a aparição do filho de Deus entre os homens aconteceu no Batismo de João, embora ele também acrescente o fato de que Jesus não apenas representou a morte e ressurreição do filho de Deus através do batismo, mas que realmente morreu e ressuscitou. Esta é a razão de João mencionar a aparição do filho de Deus por meio da “água e do sangue”. O Batismo de João representava a morte e o ressurgimento do filho de Deus, por isso, “ao sair das águas, abriu-se-lhe os céus e ouviu-se uma voz que dizia: este é o meu filho amado, em quem tenho prazer” (Mateus 3.16,17). Porém, como sabemos, Jesus só foi declarado filiho de Deus em poder após a ressurreição dentre os mortos (Romanos 1.4, Atos 13.32,33, Romanos 8.29, Apocalipse 1.5, Atos 26.23, etc). Por isso o apóstolo João havia dito que o filho de Deus se manifestou não apenas por meio da água do batismo, que representava a morte e ressurreição do filho de Deus, mas também porque Jesus havia morrido ao derramar seu sangue de fato e depois disso havia resssuscitado para a imortalidade. Tendo dito isto, vamos pensar um pouco sobre a declaração feita no parágrafo anterior.
Os acontecimentos que vão do nascimento de Cristo até o momento em que ele fora batizado nas águas, tem a sua importância, mas, o seu nascimento não é considerado como o ponto inicial para a mensagem do Evangelho. O próprio João Batista havia dito que “ele mesmo não conhecia a Jesus Cristo, mas, afim de que ele fosse manifestado a Israel e ao mundo, João apareceu realizando o batismo nas águas” (João 1.31). O aparecimento de Jesus e o início da sua mensagem são oficialmente associados ao Batismo de Arrependiento que João pregou. Em outras palavras, a primeira vinda de Cristo está oficialmente vinculada à sua manifestação inicial no dia em que ele foi batizado e não ao dia em que ele nasceu. De forma geral, tudo faz parte da primeira vinda, mas não se pode confundir os acontecimentos como se tudo fosse uma coisa só, como se a Bíblia não fizesse distinção entre uma coisa e outra, ou como se a Bíblia não atribuísse um significado próprio a cada acontecimento em particular. Ainda em meio aos diversos acontecimentos importantes da sua primeira vinda, Jesus também morreu, ficou três dias morto, e depois, no terceiro dia, voltou à vida. Nem mesmo isto pode ser considerado como “duas vindas”. Embora Cristo tenha partido no dia da morte e voltado no dia da ressurreição, ainda assim este importante acontecimento também está inserido no grande evento da primeira vinda de Cristo. Da mesma forma, penso eu, a segunda vinda de Cristo é recheada de diversos pequenos acontecimentos que fazem parte deste futuro grande evento escatológico em si. O Arrebatamento será apenas um dos acontecimentos que farão parte daquilo que as Escrituras ensinam sobre a segunda vinda de Cristo. Cada pequeno acontecimento tem suas particularidades próprias e não deveriam ser confundidas com os demais acontecimentos que se desenrolarão durante aquele período. A vinda de Cristo é uma só, mas será experimentada de formas diferentes pelos homens. Embora a manifestação final de Cristo depois da Tribulação seja mais corretamente chamada de “vinda de Cristo”, o Arrebatamento é o que será de fato a vinda de Cristo para o crente, pois, ao sermos arrebatados, o seremos “para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor“ (1Tessalonicenses 4.17). Ainda que os habitantes da terra se encontrem com Cristo quando ele vier, depois da Tribulação, o encontro do crente com Cristo, segundo Paulo, será no Arrebatamento. Alguns podem querer discutir qual o exato momento deste encontro, ou seja, em que momento, de fato, acontecerá o Arrebatamento, mas, ao lermos Mateus 25.31 a 46, vemos Jesus afirmando que quando ele vier, depois de toda a Tribulação, haverá justos na terra aos quais ele dirá: “Vinde benditos de meu Pai. Entrai na posso do reino”. Ora, se este fosse o momento do Arrebatamento como querem alguns, ou seja, depois da Tribulação, não faria sentido que ainda houvesse justos na terra que não tivessem sido arrebatados para o encontro do Senhor nos ares.
DICAS COMPLEMENTARES
- Site com muitos documentos e estudos excelentes: pre-trib.org
- Meu site com muito material disponível: NatanRufino.com.br
- Estude o meu livro: Arrebatamento Antes da Tribulação
- Livro que lista documentos e livros descrevendo a crença no arrebatamento prétribulacional na época da patrística, ou seja, o livro lista documentos da crença pré-tribulacionista entre os anos 35 e 749: Arrebatamento Pré-Tribulacional na Patrística