Arrebatamento, Tribulação e 2Tessalonicenses 1
As cartas de Paulo aos novos convertidos de Tessalônica são marcadas pela presença de vasto conteúdo escatológico, com riquíssimas informações sobre pontos doutrinários relevantes. Alguns irmãos pós-tribulacionistas costumam citar o primeiro capítulo da segunda carta, como se nele houvesse uma espécie de comprovação da sua forma de entender o momento em que acontecerá o arrebatamento da Igreja. No entanto, é possível que esta ideia não esteja sendo articulada corretamente.
O texto diz: 6 …de fato, é justo para com Deus que ele dê em paga tribulação aos que vos atribulam 7 e a vós outros, que sois atribulados, alívio juntamente conosco, quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os anjos do seu poder, 8 em chama de fogo, tomando vingança contra os que não conhecem a Deus e contra os que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus. 9 Estes sofrerão penalidade de eterna destruição, banidos da face do Senhor e da glória do seu poder… (2Tessalonicenses 1.6-9).
O argumento de alguns é que Paulo estaria dizendo que “o arrebatamento aconteceria no mesmo momento que o Senhor Jesus se manifestasse do céu para tomar vingança contra os pecadores”. Interpretando a palavra “alívio”, do verso sete, como “o arrebatamento”, eles supõem que Paulo teria dito que as duas coisas, o arrebatamento e a vingança divina contra os pecadores, aconteceriam juntas, no mesmo instante, depois da Tribulação. No entanto, tem um pequeno detalhe que parece fugir à percepção dos irmãos que usam esse texto desta forma.
Considerando a palavra alívio como uma possível referência ao arrebatamento, como querem alguns pós-tribulacionistas, Paulo, então, estaria dizendo que “Deus retribuirá aos perseguidores da Igreja com tribulação, ao passo que a própria Igreja, nesta ocasião, será arrebatada”. O que faria que o entendimento mais natural do texto nos levasse a admitir que Paulo estava afirmando que a tribulação viria sobre os pecadores no mesmo instante em que a Igreja seria arrebatada. Essa interpretação favorece a ideia de um arrebatamento pré-tribulacional e não pós-tribulacional. Porém, eles desconsideram o fato de que Paulo uniu o momento do “alívio da Igreja” com o momento da tribulação para os pecadores. A razão desta pequena confusão se deve ao fato de que, na maioria das nossas Bíblias, a distribuição dos sinais gráficos de pontuação, misturaram aquilo que parecem ser dois momentos distintos na descrição de Paulo sobre alguns dos eventos futuros. O primeiro momento é mencionado por Paulo do verso seis até a metade do verso sete e o segundo momento é mencionado da metade do verso sete até o verso nove. A única coisa que nos impede de enxergar claramente isso no texto, é uma possível má distribuição dos sinais gráficos de pontuação. Em outras palavras, a tribulação mencionada por Paulo no versão seis, não é a mesma coisa da penalidade de eterna destruição mencionada no verso nove.
A tribulação da qual Paulo fala, no verso seis, diz respeito àquele período de angústia como nunca houve, nem jamais haverá. O futuro e inigualável período de trevas sobre a terra. A penalidade de eterna destruição, do verso nove, se refere à sentença final que receberão os pecadores, depois da tribulação, com o banimento definitivo da face do Senhor. O primeiro momento fala da angústia e tribulação que os pecadores enfrentarão sobre a terra e o segundo momento fala do seu banimento final quando serão expulsos da terra.
Sou da opinião que se a distribuição dos sinais gráficos de pontuação tivesse sido melhor realizada, essa pequena confusão, provavelmente, não teria surgido.
Acredito que o texto seria melhor pontuado da seguinte forma:
Desta forma não ficamos tão confusos com a ordem dos futuros acontecimentos que parecem estar sendo apresentados por Paulo no texto em questão.
Paulo parece estar falando que o pagamento dos perseguidores da Igreja será a tribulação. Isto é, que Deus retribuirá toda a perversidade dos ímpios contra os filhos de Deus, durante o período tribulacional. Mas isso não é tudo. Depois da tribulação, quando o Senhor Jesus finalmente se manifestar do céu, ele apartará os perdidos dos arrependidos do período tribulacional, e, a todos os injustos impenitentes, ele sentenciará com a penalidade de eterna destruição, sendo assim definitivamente banidos da face do Senhor e de uma possível comunhão com ele.
Por outro lado, os justos, refletirão a glória de Deus em seus corpos imortais durante o reino milenar de Cristo sobre a terra “quando ele vier para ser glorificado nos seus santos e ser admirado em todos os que creram, naquele dia” (2Tessalonicenses 1.10).