O Cavaleiro de Apocalipse 6
Embora ao longo do livro de Apocalipse encontremos diversas menções a cavalos e cavaleiros, não há dúvida de que os mais citados, e mais populares, sejam os quatro primeiros que aparecem no livro. “Os quatro cavaleiros do Apocalipse” tornou-se frase comum na cultura popular como sinônimo para “destruição”, “punição” ou coisa semelhante. A acepção do conceito está plenamente correta.
O DIA DA IRA
Para quem ainda não entendeu do que se trata a maior parte do livro de Apocalipse, é importante que se diga, que, sua mensagem, se refere ao cumprimento da reiterada promessa de Deus de que, um dia, o mundo será punido pela sua impureza e obstinação no pecado. Será tão evidente aos homens que, tais acontecimentos futuros, se tratarão da manifestação da ira de Deus, que, eles mesmos, o reconhecerão facilmente. A Bíblia revela que no rompimento do sexto selo os homens dirão aos montes e aos rochedos: “caiam sobre nós e escondam-nos da face daquele que se assenta no trono e da ira do Cordeiro, porque chegou o grande Dia da ira deles” (Apocalipse 6.17). A afirmação “chegou o Dia”, como se encontra no versículo citado, revela que ele já era conhecido, por já ter sido anunciado. Se os pecadores, mencionados no livro, esperavam ou não, que ele realmente se cumprisse, é outra história. A verdade, porém, é que este dia de punição já está marcado na agenda divina. De fato, no ressoar da sexta trombeta, se diz que “foram, então, soltos os quatro anjos que se achavam preparados para a hora, o dia, o mês e o ano, para que matassem a terça parte dos homens” (Apocalipse 9.15). Observe a precisão temporal no texto: “hora, dia, mês e ano”. Uau!
Nos mais diversos lugares das Escrituras, este tempo futuro de punição, é retratado como “o Dia do Senhor”. Dando a entender com isto, que, os acontecimentos que se desenrolarão “neste dia”, serão regidos diretamente pelo Senhor, numa espécie de intervenção extraordinária no curso normal da vida.
Não custa nada avisar, embora possa parecer óbvio demais, que, quando as Escrituras se referem a este futuro tempo de punição divina como “o Dia do Senhor”, isso não quer dizer que a Bíblia esteja tratando sobre um dia de vinte e quatro horas. No texto bíblico, a palavra “dia” é usada, pelo menos, de três formas diferentes. Pode ser uma referência ao período de doze horas correspondente ao tempo da luz, como em João 11.9, quando Jesus fez menção “às doze horas do DIA”. Pode ser uma referência ao período de vinte e quatro horas, como se pode ver em Gênesis 1.13: “houve tarde e manhã, o terceiro DIA”. E, finalmente, pode ser uma referência a um período indefinido de tempo, que não se limita, necessariamente, a doze ou vinte e quatro horas, como acontece em Gênesis 2.4, quando o texto fala sobre “as origens dos céus e da terra, quando foram criados; NO DIA em que o Senhor Deus fez a terra e os céus”. A criação dos céus e da terra, como registrado em Gênesis, não se limitou a um período de doze ou vinte e quatro horas, mas, se estendeu por um período, de pelo menos, seis dias, quando, finalmente, “foram acabados os céus e a terra, e, havendo Deus terminado no dia sétimo a sua obra, descansou nesse dia” (Gênesis 2.12). É precisamente neste último sentido, de tempo indefinido, que a expressão “Dia do Senhor” é usada nos textos proféticos para se referir a esta futura intervenção divina para a punição dos pecadores que vivem sobre a terra.
SELOS, TROMBETAS E TAÇAS
Este período de punição, onde a ira de Deus se revelará do céu contra os moradores do mundo, transcorre no livro de Apocalipse através do rompimento de sete selos, do ressoar de sete trombetas e do derramamento de sete taças. Estes três segmentos refletem uma narrativa linear e crescente deste período de grande aflição humana. Embora o texto de Apocalipse contenha grandes parênteses explicativos, que até podem confundir um leitor desavisado, o texto não contém uma narrativa circular, repetitiva, como alguns irmãos preferem acreditar.
Em outras palavras, os flagelos e punições mencionados no ressoar das trombetas, não são os mesmos referidos no rompimento dos sete selos, por exemplo, como se a narrativa estivesse apenas tratando dos mesmos acontecimentos a partir de outro ângulo, de outro ponto de vista. Na verdade, há um escalonamento na intensidade dos castigos e das dores que serão experimentados pelos que se encontrarem sobre a terra.
Para se certificar de que os selos, trombetas e taças não se tratam de uma mera repetição dos mesmos acontecimentos, como se estivessem sendo narrados a partir de uma perspectiva diferente, observe que Apocalipse 6.8 diz que, durante o rompimento dos quatro primeiros selos, “a quarta parte dos homens foi morta”. Depois, em Apocalipse 9.15, ao toque da sexta trombeta, o texto diz que “a terça parte dos homens será morta pelos anjos que serão soltos”. Da mesma forma, Apocalipse 8.8,9 diz que, na segunda trombeta, “a terça parte dos seres que tinham vida no mar, foram mortos” e Apocalipse 16.3 diz que, na segunda taça, “morreu todo ser vivente que havia no mar”. Ora, “a quarta parte” dos homens é uma quantidade menor que “a terça parte” deles, e, obviamente, a “terça parte” dos serres marinhos é menor que a sua totalidade.
Nos detenhamos um pouco mais nestes juízos que ocasionarão a morte parcial dos habitantes da terra. Note que quando o texto fala, pela primeira vez, sobre a morte da “quarta parte dos homens” e depois acrescenta que, posteriormente, “a terça parte dos homens” foi morta, é claro que o texto de Apocalipse está se referindo à terça parte dos homens que restaram depois daqueles que haviam morrido. Imagine o mundo dividido em quatro pedaços (4/4). Tire a quarta parte (1/4) desta divisão em quatro, restarão três partes iguais (3/4), que agora será a totalidade dos homens sobre a terra. Se gora você elimina a terça parte destes homens (1/3), na verdade, você está tirando exatamente a mesma medida (a mesma quantidade de homens) do primeiro extermínio, pois a atual terça parte (1/3), equivale a uma medida dos três quartos anteriores (3/4) que haviam sobrado. Em outras palavras, Apocalipse 6.8 fala da morte de 1/4 dos homens e depois acrescenta em Apocalipse 9.15 que 1/3 de todos os homens que sobraram, também são mortos, totalizando 2/4, a metade, de todos os seres humanos da terra a partir da contagem inicial da população do mundo no momento em que os primeiros selos são abertos. Se estes dois momentos de juízo fossem apenas narrativas diferentes de um mesmo acontecimento, do mesmo momento em que os homens são parcialmente exterminados da terra, a conta não iria fechar. Não faria sentido eu contar uma história dizendo que “um quarto” dos homens morreram e depois, ao contar a mesma história pela segunda vez, eu dizer que a quantidade de homens que morreu foi “um terço”. O texto de Apocalipse não poderia estar falando da mesma coisa.
Não, os selos, trombetas e taças, não são apenas diferentes narrativas dos mesmos acontecimentos. Além disso, diferentemente do que pensam alguns, a manifestação da “Ira de Deus”, no livro de Apocalipse, não se limita ao momento em que as “taças da ira” são mencionadas. Alguns irmãos têm se confundido com isso. De fato, a ira de Deus começa a se revelar contra os homens no rompimento do primeiro selo e atinge seu ápice durante o derramamento das sete taças, “pois com os sete últimos flagelos, dos últimos sete anjos, com suas taças, se completará a ira de Deus” (Apocalipse 15.1, 16.1). Isto é, a ira de Deus não começará a ser derramada na terra somente no momento dos flagelos das taças. Na verdade, é com as taças, que são devidamente chamadas de “últimos flagelos”, que a manifestação da ira de Deus chega ao fim. Há uma progressão na intensidade dos juízos e suas consequências. O começo das dores se desenvolve a partir dos primeiros selos e alcança o auge nas últimas taças.
ALEGORISTAS PROFISSIONAIS E SUAS INTERPRETAÇÕES
O livro de Apocalipse, que fora escrito, aproximadamente, entre os anos 90 e 96 d.C., não poderia estar se referindo a algum tipo de “vinda de Cristo misteriosa e enigmática, através das forças do império romano, para punir os judeus cerca de vinte anos antes”. Claro, que, para fazer essa interpretação ter algum sentido, seus defensores precisam que o livro tenha sido escrito antes do ano 70 d.C., como alguns buscam defender. Contudo, a ideia de que o livro de Apocalipse estivesse falando sobre “a vinda de Cristo através do império romano no ano setenta”, além de risível, chega a ser vergonhosa para seus defensores. Até porque, o próprio livro de Apocalipse estabelece o padrão para esta vinda da qual o livro se propõe a falar: “Jesus virá com as nuvens, e todo olho o verá, e, todas as tribos da terra, se lamentarão sobre ele” (Apocalipse 1:7). Em momento algum João parecia estar falando sobre uma futura vinda de Cristo, que, para ser “vista”, deveria ser “interpretada”, como alguns dos alegoristas profissionais têm tentado sugerir. É verdade que o livro de Apocalipse contém inúmeros elementos culturais e geográficos que apontam para a terra de Israel, mas, ao mesmo tempo, o livro trata sobre acontecimentos que serão vivenciados por todos os habitantes da terra. Além disso, ao se concluir a Tribulação que é retratada no livro, haverá a ressurreição em massa de milhares de justos mortos, um reino messiânico literal que durará por mil anos, um grande julgamento final dos pecadores e a criação de novos céus e uma nova terra. Seria preciso muita criatividade para colocar tais acontecimentos no ano 70 d.C..
Não obstante a explicitude do texto, alguns dos irmãos de segmentos acentuadamente alegoristas, se apegam a coisinhas bobas e infantis, transformando-as na base para o desenvolvimento das suas teorias mirabolantes. A forma como alguns destes irmãos costumam interpretar o primeiro cavaleiro de Apocalipse seis, por causa da cor do seu cavalo, reflete muito bem o que estamos dizendo aqui.
O CAVALEIRO DO CAVALO BRANCO
Apocalipse 6:2
1 Vi quando o Cordeiro abriu um dos sete selos e ouvi um dos quatro seres viventes dizendo, como se fosse voz de trovão: Vem! 2 Vi, então, e eis um cavalo branco e o seu cavaleiro com um arco; e foi-lhe dada uma coroa; e ele saiu vencendo e para vencer.
Você acreditaria se eu lhe dissesse que tem gente que afirma que o versículo acima se refere a Jesus, e que, tais pessoas, não aceitam qualquer outra interpretação, principalmente pelo fato da cor do cavalo ser branca? Pois é, verdade verdadeira! O raciocínio deles é simples e fácil de ser compreendido: “se é branco é bom, se é bom, é Jesus”. Para corroborar a importância da brancura do cavalo, apelam para o texto de Apocalipse 19 onde Jesus aparece montado num cavalo branco, descendo do céu, no final da tribulação, para matar o anticristo com o sopro da sua boca. Ora, se o cavalo de Jesus é branco lá, e tem alguém montado num cavalo branco aqui, só pode ser Jesus, certo? Calma lá, amigo! Não é assim que se resolve o problema neste jogo dos bichos.
Não se pode igualar o personagem do capítulo seis com o Senhor Jesus, mencionado no capítulo dezenove, apenas por causa da cor dos cavalos. Por qual razão o texto de Apocalipse, que em todas as ocasiões que menciona Jesus, o enaltece a uma posição digna e gloriosa, como em nenhum outro lugar do Novo Testamento, iria apresentá-lo no capítulo seis como um anônimo, sem nome, sem título e sem nobreza, que, para ser identificado, precisaria que a cor do seu cavalo fosse branca? Sem mencionar o fato de que, somente depois que este cavaleiro é convocado pela palavra de comando de um dos seres viventes, é que ele é coroado, e, finalmente, então, pode “sair para vencer”. Esta descrição não parece estar falando do mesmo Jesus do restante do livro de Apocalipse. Este personagem só recebe a sua coroa quando é convocado a entrar em cena por ocasião do rompimento do primeiro selo. Jesus, diferentemente deste, já aparece com muitos diademas sobre a sua cabeça (Apocalipse 19.12).
Em Apocalipse 1.14,16 João descreve Jesus “com olhos como chama de fogo” e diz que “da sua boca saía uma afiada espada de dois gumes”, além de muitas outras características marcantes e impossíveis de ficarem despercebidas. Em Apocalipse dezenove, além de repetir estas duas mesmas características, ao se referir ao cavaleiro do cavalo branco lá, João não consegue simplesmente dizer que “é Jesus”. Ele usará diversas descrições que, além de deixarem claro de quem ele está falando, engrandecerão a Cristo, como é seu costume fazer por todo o livro de Apocalipse. Observe:
Apocalipse 19.11-16
11 Vi o céu aberto, e eis um cavalo branco. O seu cavaleiro SE CHAMA FIEL E VERDADEIRO e JULGA e peleja COM JUSTIÇA. 12 Os seus olhos são chama de fogo; na sua cabeça, há muitos diademas; tem um nome escrito que ninguém conhece, senão ele mesmo. 13 Está vestido com um manto tinto de sangue, e O SEU NOME se chama O VERBO DE DEUS; 14 e seguiam-no os exércitos que há no céu, montando cavalos brancos, com vestiduras de linho finíssimo, branco e puro. 15 Sai da sua boca uma espada afiada, para com ela ferir as nações; e ELE MESMO as REGERÁ COM CETRO DE FERRO e, pessoalmente, pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus Todo-Poderoso. 16 Tem no seu manto e na sua coxa um NOME inscrito: REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES.
Se o cavaleiro do cavalo branco de Apocalipse seis, fosse mesmo o Senhor Jesus, seria a primeira vez, em todo o livro, que ele estaria sendo retratado como um anônimo, que para ser identificado, precisaria desesperadamente que a cor do seu cavalo fosse branca.
Além disso, são os seres viventes que ordenam os cavaleiros e não há menção a qualquer suposto “cavaleiro especial”, naquele grupo, que não precise receber ordens de qualquer um dos seres viventes. Para dizer o mínimo, seria muito estranho que, Jesus, estivesse recebendo ordens de um ser vivente que houvera sido redimido pelo seu próprio sangue. Embora não saibamos identificar, com clareza, quem são, ou quem representam, os quatro seres viventes, pelo menos sabemos o quê, juntamente com os vinte e quatro anciãos, eles cantavam no capítulo cinco: “foste morto, e com teu sangue nos compraste para Deus e para o nosso Deus nos fizeste reis e sacerdotes; e reinaremos…” (Apocalipse 5.9,10). Se você preferir as versões que omitem o fato de que os seres viventes e os vinte quatro anciãos foram redimidos pelo sangue do Cordeiro, ainda assim, não faz sentido “Jesus” obedecer à voz de comando de um destes quatro seres viventes.
Como se não bastasse o que já foi dito, observe que o próprio texto deixa claro onde Jesus pode ser encontrado no versículo imediatamente anterior ao aparecimento do cavaleiro anônimo: “Vi o Cordeiro abrindo o livro” (Apocalipse 6.1). Nesta passagem, Jesus é o Cordeiro ou é o ilustre anônimo que “teve a sorte” de vir montado em um cavalo branco, fazendo-lhe, por isso, ser reconhecido como o Senhor Jesus? Obviamente que Jesus é o Cordeiro e não o anônimo que precisa da cor de um cavalo para ser “identificado”. Contudo, vamos fazer assim: digamos que Jesus tanto é o Cordeiro, quanto o cavaleiro sem nome do cavalo branco. Sendo assim, teríamos a seguinte cena: Jesus, o único digno para romper os selos daquele rolo, rompe o primeiro selo, corre para trás da cortina, e, nos bastidores celestes, sobe no cavalo branco e fica esperando a ordem para ter a permissão de voltar ao palco mais uma vez. Quando então ele recebe a permissão para “vir”, ele é coroado e agora, finalmente, ele poderá sair como vencedor. Estranho, não?
Na verdade, o cavaleiro do cavalo branco de Apocalipse seis, faz parte de um grupo de quatro cavaleiros, e, sozinho, ele não tem qualquer preeminência. Parece-me que os quatro devem ser levados em consideração juntos. O texto fala sobre quatro selos rompidos, quatro seres viventes pronunciando uma palavra de comando e quatro cavaleiros atrelados a eles. Trata-se de um conjunto. São mencionados explicitamente quatro cavalos e quatro cores. Inclusive, as próprias cores mencionadas parecem ter algum sentido no contexto da revelação. Embora a questão das cores dos cavalos não seja, de fato, um assunto tão explorado, é curioso que as cores mencionadas ali, no início do período tribulacional, sejam o Branco, o Vermelho, o Preto e o Verde, e que, além disso, se apresentem como um conjunto, que fazem parte de uma mesma unidade, com o mesmo propósito de destruir causando a guerra, a fome e a morte. Aliás, a última cor, que em algumas Bíblias traduziram por “amarelo”, é, de fato, “verde”. A palavra “cloros” (χλωρός), traduzida por “amarelo” é a mesma palavra que em Apocalipse 8.7 é traduzida para retratar “toda a erva verde“. Em Apocalipse 9.4 a mesma palavra aparece na frase que está falando sobre “qualquer coisa verde“ e em Mateus 6.39 a palavra também aparece quando se fala de grupos que se assentaram sobre “a relva verde“. Em português nós temos a palavra “clorofila”, que representa o pigmento que dá coloração verde a alguns tecidos vegetais, em especial aos tecidos das folhas. De fato, a palavra “clorofila”, é formada por duas palavras gregas: “cloros” que em português equivale à cor “verde” e “fillon”, que representa a nossa palavra para “folha”.
Em breve veremos, neste texto, que os primeiros selos rompidos no capítulo seis de Apocalipse, representam “o princípio das dores”, que é uma espécie de referência à primeira metade do período tribulacional. Os quatro cavaleiros vem montados sobre cavalos cujas cores representam as cores usadas na grande maioria dos países islâmicos, arqui-inimigos de Israel. Na verdade, o verde é a “cor emblema” do Islã. Se o Anticristo realmente vier dos descendentes de Ismael, como a Bíblia parece indicar, faria todo o sentido que os cavaleiros dos primeiros selos, que anunciam o surgimento e ascensão do Anticristo, aparecessem em cena montados nas cores das bandeiras dos países que representam, ou são aliados, do seu povo.
Na verdade, o capítulo seis de Apocalipse está anunciando o início da Tribulação. No rompimento do primeiro selo, ainda no início do período tribulacional, o texto parece estar fazendo alusão a ascensão do Anticristo e suas campanhas militares que causarão guerra, forme e morte na terra. Embora o cavaleiro anônimo não seja o Anticristo em pessoa, pois João está presenciando a cena no céu, é provável que a intenção da revelação divina seja apontar para o seu surgimento. As características da visão, inclusive a presença do cavalo branco, parecem retratar alguém que prega a paz, mas oferece a guerra (Apocalipse 6.1-8). Em Apocalipse 13.11 João diz que “viu uma besta emergir da terra que possuía dois chifres, parecendo cordeiro, mas falava como dragão”. A construção deste texto tem por objetivo realçar o contraste: “parecia cordeiro”, mas, “falava como dragão”. Paulo chegou a dizer que “o surgimento do Anticristo terá o apoio de Satanás com poder, sinais e prodígios da mentira; usando todo o engano da injustiça” (2Tessalonicenses 2.9,10). De fato, no discurso de Cristo sobre “o começo das dores” do período tribulacional, ele também parece ter apresentado os mesmos elementos do texto de Apocalipse seis: “Vede que ninguém vos engane. Muitos virão em meu nome e enganarão a muitos. Quando ouvirdes de guerras e rumores de guerras, não vos assusteis. Porque se levantará nação contra nação, e reino, contra reino. Haverá terremotos em vários lugares e também fomes. Isto será apenas o começo das dores” (Marcos 13.5-8). É muito mais provável que o texto de Apocalipse seis esteja fazendo alusão ao aparecimento do grande enganador, que surgirá no palco da história no início do período tribulacional, exatamente como retrata o texto com o rompimento do primeiro selo.
Embora a cor branca seja de fato associada a diversas coisas positivas nas Escrituras, a afirmação de que “se é branco é bom, se é bom, é Jesus”, não se sustenta. Essa ideia de considerar a cor branca como uma das principais “chaves hermenêuticas” para a identificação deste personagem de Apocalipse seis, chega a ser ridícula. Para os que se veem admirados de que “o mal” possa ser representado por um cavaleiro, montando um “cavalo branco”, é importante lembrar que Paulo já havia nos alertado quanto a isso. Paulo disse que, “não devemos nos admirar se um ministro de Satanás, um falso apóstolo e obreiro fraudulento, se metamorfosear em ministro de Cristo”. Afinal, “se o próprio Satanás se transforma em anjo de luz, não é muito, pois, que seus próprios ministros se transformem em ministros de justiça” (2Coríntios 11.13-15). Satanás se transforma em anjo de luz! Eu gostaria muito de saber o que estes alegoristas diriam sobre “a luz” deste anjo mau, que se apresenta com uma aparência que visa mascarar sua real natureza. Será que para corroborar suas interpretações coloridas eles diriam que este anjo era mau, porque, embora houvesse ali alguma luz, ela seria, na verdade, uma “luz negra”? Os alegoristas parecem não entender que para enganar, é preciso ter a “aparência certa”.
Gálatas 1.8
Ainda que mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema.
O que você acha de Paulo afirmar que um anjo, vindo do céu, pode trazer engano, dependendo da mensagem que ele tenha a oferecer? É isso mesmo que você leu: Um anjo, vindo do céu! Paulo não estava falando de anjos subindo do inferno. Uma das principais armas de Satanás é a dissimulação e o engano, e, em certos contextos, o próprio Deus autoriza coisas assim, como uma espécie de punição àqueles que não tiveram amor pela verdade. No Salmo 109.17 está escrito: “amou a maldição; que ela o apanhe; não quis a bênção; que ela se aparte dele”.
Os primeiros selos do livro de Apocalipse estão revelando o justo juízo de Deus sobre aqueles que rejeitaram a verdade e preferiram ficar do lado da injustiça. “É por esse motivo que Deus lhes manda a operação do erro, para acreditarem na mentira, afim de serem julgados todos quantos não deram crédito à verdade” (2Tessalonicenses 2.9-12). Isto acontecerá após o arrebatamento, logo no início da Tribulação, e virá como punição sobre “os homens que não acolheram o amor da verdade para serem salvos”.
Os quatro cavaleiros do Apocalipse, encabeçados pelo primeiro, que tem um arco nas mãos, e que recebe uma coroa que lhe dá autoridade para vencer, representam as destruições que sobrevirão ao mundo, na primeira metade da Tribulação, através das obras malignas dos demônios apoiadores do Anticristo e da sua turma. De fato, quando o livro de Apocalipse se propõe a falar explicitamente de algumas das características do Anticristo e da multidão que lhe segue, o texto diz que “o dragão lhe deu seu poder, seu trono e grande autoridade” (Apocalipse 13.2). João também afirma que “foi-lhe dada autoridade para agir por quarenta e dois meses”, e diz também que “foi-lhe dada autoridade para que pelejasse contra os santos e que os vencesse” (Apocalipse 13.5,7). Até mesmo o profeta Daniel, ao se referir ao Anticristo, já havia afirmado que “ele faria guerra contra os santos e prevaleceria contra eles” e somente “depois que se acabasse a destruição do poder do povo santo”, a punição do período tribulacional chegaria ao fim (Daniel 7.21 e Daniel 12.7).
O “povo santo” mencionado no livro de Daniel é uma referência aos judeus do período tribulacional. O povo a quem Deus separou para a missão de anunciar a salvação e abençoar a todos os povos da terra. E, embora o próprio Jesus confirme o fato de que “a salvação vem dos judeus” (Jo 4.22), pois, como sabemos, “aos judeus foram confiadas as palavras de Deus” (Rm 3.2), de forma geral, eles têm sido negligentes e até culpados por rejeitar e impedir a pregação do Evangelho de Cristo ao mundo. Por isso mesmo, como também disse Daniel, este é um dos propósitos da Tribulação: “quebrantar a resistência do povo santo”, trazendo-os, assim, de volta à sensatez.
Como você pode ver, as Escrituras ensinam que uma das finalidades da Tribulação é trazer esta futura punição sobre o povo que Deus separou para a sua obra, mas que tem sido negligente e irresponsável com a divina incumbência que lhe foi imposta. Quando, porém, eles forem finalmente quebrantados, tudo terá sido cumprido.
ESPADA, FOME, PESTES E FERAS
Vejamos alguns textos das Escrituras onde os mesmos elementos de punição mencionados em Apocalipse seis aparecem. Em diversos lugares, A Bíblia reafirma as características dos primeiros juízos associados aos quatro cavaleiros dos quatros primeiros selos de Apocalipse seis. Confira os exemplos abaixo.
Ezequiel 14:21
Porque assim diz o SENHOR Deus: Quanto mais, se eu enviar os meus quatro maus juízos, a ESPADA, a FOME, as BESTAS-FERAS e a PESTE, contra Jerusalém, para eliminar dela homens e animais?
Observe que as calamidades, mencionadas no texto de Ezequiel, são as mesmas que aparecem no texto de Apocalipse, associadas às ações dos cavaleiros sobre a terra. Apocalipse 6.8 diz que aos quatro cavaleiros “foi-lhes dada autoridade sobre a quarta parte da terra para matar à ESPADA, pela FOME, com a PESTE e por meio das FERAS da terra”. Observe a repetição das mesmas palavras, que apontam para a mesma punição anunciada. Até mesmo no livro de Deuteronômio, por exemplo, Deus já havia anunciado este mesmo futuro juízo que haveria de vir sobre os rebeldes do seu povo. Observe as mesmas punições sendo referidas no texto.
Deuteronômio 32:22-25
22 Porque UM FOGO se acendeu NO MEU FUROR e arderá até ao mais profundo do inferno, consumirá a terra e suas messes e abrasará os fundamentos dos montes. 23 Amontoarei males sobre eles; as MINHAS SETAS esgotarei contra eles. 24 Consumidos serão pela FOME, devorados pela FEBRE e PESTE violenta; e contra eles enviarei dentes de FERAS e ardente peçonha de serpentes do pó. 25 Fora devastará a ESPADA, em casa, o pavor, tanto ao jovem como à virgem, tanto à criança de peito como ao homem encanecido.
No texto acima, as mesmas calamidades se repetem, e, dessa vez, o texto as relaciona ao conceito de “flechas” ou “setas” enviadas por Deus como punição. Isso nos remete ao “arco” que aparece na mão do primeiro cavaleiro que é autorizado a realizar sua obra devastadora juntamente com seus outros três companheiros que trarão punição aos habitantes da terra.
Voltando ao livro de Ezequiel, veremos que, em outro capítulo, ele praticamente repete os mesmos juízos que já lemos aqui. Dessa vez, porém, encontramos mais detalhes, deixados pelo profeta, ao falar sobre este mesmo futuro juízo que há de vir sobre Jerusalém e os outros pecadores da terra.
Ezequiel 5:5-9,12,13,16,17
5 Assim diz o SENHOR Deus: Esta é JERUSALÉM; pu-la no meio das nações e terras que estão ao redor dela. 6 Ela, porém, se rebelou contra os meus juízos, praticando o mal mais do que as nações e transgredindo os meus estatutos mais do que as terras que estão ao redor dela; porque rejeitaram os meus juízos e não andaram nos meus estatutos. 7 Portanto, assim diz o SENHOR Deus: Porque sois mais rebeldes do que as nações que estão ao vosso redor e não tendes andado nos meus estatutos, nem cumprido os meus juízos, nem procedido segundo os direitos das nações ao redor de vós, 8 por isso, assim diz o SENHOR Deus: Eis que eu, eu mesmo, estou contra ti; e EXECUTAREI JUÍZOS no meio de ti, à vista das nações. 9 FAREI CONTIGO O QUE NUNCA FIZ E O QUE JAMAIS FAREI, por causa de todas as tuas abominações. 12 Uma terça parte de ti morrerá de PESTE e será consumida de FOME no meio de ti; outra terça parte cairá à ESPADA em redor de ti; e a outra terça parte espalharei a todos os ventos e desembainharei a ESPADA atrás dela. 13 Assim, SE CUMPRIRÁ A MINHA IRA… 16 Quando eu despedir AS MALIGNAS FLECHAS da FOME contra eles, FLECHAS DESTRUIDORAS, que eu enviarei para vos destruir, então, aumentarei a FOME sobre vós e vos tirarei o sustento de pão. 17 Enviarei sobre vós a FOME e BESTAS-FERAS que te desfilharão; a PESTE e o sangue passarão por ti, e trarei a ESPADA sobre ti. Eu, o SENHOR, falei.
No verso oito, do texto acima, Ezequiel anuncia que Deus executará os seus juízos contra Jerusalém e faz uso de uma expressão que normalmente aparece nas Escrituras ao se falar das características singulares do período tribulacional: “Farei contigo o que nunca fiz e o que jamais farei”. Em outras palavras, será um momento único em toda a história. Algo que nunca aconteceu e jamais voltará a se repetir. Este é o mesmo teor de algumas das passagens que se referem ao período tribulacional. Comumente tais passagens falam sobre “um tempo de angústia como nunca houve, nem jamais haverá”.
Observe com atenção a repetição das mesmas calamidades que são mencionados em Apocalipse seis, e que caracterizarão o início da Tribulação através das ações dos quatro cavaleiros dos primeiros quatro selos: ESPADA, FOME, PESTE e FERAS. O profeta afirma que estas serão as “flechas destruidoras” que Deus enviará em juízo contra os pecadores de Jerusalém, e, como sabemos, contra o restante dos pecadores do mundo que também siga o seu mau exemplo.
Como vemos, Apocalipse seis está apenas relatando as características do início da tribulação, exatamente como já havia sido previsto em outros textos proféticos das Escrituras. A primeira metade da Tribulação, também chamada por Jesus de “princípio das dores”, será o período em que o Anticristo aparecerá no mundo causando guerras, revoluções, morte, escassez, fome e morte. Ele oferecerá a paz, mas trará a guerra. Terá aparência de cordeiro, mas falará como dragão. Fará sinais, prodígios, mas serão todos procedentes do engano e da mentira. Muitos perecerão, mas palavra e o reino de Deus serão anunciados aos quatro cantos da terra, como o prenúncio de uma nova era que iniciará depois da restauração de todas as coisas.
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Locução: Rose Renovato [email protected]