E esse negócio de pular, correr e gritar?
Em relação a experiências espirituais, quando lemos as Escrituras, descobrimos que há pelo menos três coisas diferentes que precisam ser compreendidas:
- As manifestações do Espírito;
- As reações do homem;
- e As intervenções divinas.
As manifestações do espírito estão listadas em 1 Coríntios 12 e são nove: palavra de sabedoria, palavra de conhecimento, fé, dons de curas, operações de milagres, profecia, discernimento de espíritos, variedade de línguas e a capacidade de interpretá-las (1 Coríntios 12.7-10). Cada uma destas manifestações ou dons do Espírito são distribuídas como lhe apraz, ou seja, como o Espírito Santo quer ( 1 Co 12.11). Além disso, Paulo também diz que a manifestação do Espírito é concedida a cada um sempre visando um fim proveitoso (1 Co 12.7). Inúmeros textos também ensinam que há uma interação entre o Espírito Santo e a ação humana durante o desenrolar destas manifestações.
As reações humanas, em decorrência de experiências com Deus, são variadas e dependem exclusivamente do temperamento e comportamento de cada um. Alguns sentem vontade de pular, enquanto outros preferem deitar no chão; alguns sentem vontade de correr, enquanto outros preferem se ajoelhar; alguns em determinados momentos simplesmente choram, enquanto outros não param de gargalhar ou gritar. A reação do homem a uma experiência espiritual não é exatamente a mesma coisa que uma “manifestação do Espírito Santo”. Melhor dizendo, não é o Espírito Santo que faz isto com as pessoas, ainda que pudéssemos dizer que as próprias pessoas é que fazem isso no Espírito Santo. O Espírito Santo pode até ter tocado profundamente o coração de alguém, mas a forma como a pessoa reage àquela experiência espiritual não é uma coisa que esteja sendo feita pelo Espírito Santo. A diferença pode parecer sutil para alguns, mas com um pouco de boa vontade não é difícil de entender.
As intervenções divinas, por sua vez, são as ocasiões em que Deus pela sua soberania e vontade própria, de acordo com seus planos, intervem no curso normal das coisas. Não há participação humana, ninguém tem que receber nada pela fé ou coisa parecida, Deus “simplesmente” age! Um exemplo típico disto se encontra no Evangelho de Lucas quando um anjo do Senhor disse a Zacarias, pai de joão Batista, que ele ficaria mudo, não conseguiria falar, até ao dia em que certas coisas tivessem acontecido. Zacarias não precisou “se render ao Espírito, para dar lugar a ação de Deus”; Zacarias não precisou “receber pela fé”; era uma intervenção divina no curso normal das coisas. Outro exemplo de intervenção é o que costumamos chamar de “arrebatamento”. Paulo diz em 1 Tessalonicenses 4.16 que dada a palavra de ordem do Senhor “os que estiverem vivos na ocasião serão arrebatados, entre nuvens, para se encontrar com o Senhor nos ares”.
Sobre as palmas, que são na verdade uma expressão individual consciente, eu penso o seguinte: Assim como temos o controle sobre como agimos em relação às manifestações do Espírito através da nossa vida, obviamente também devemos ter o controle das nossas próprias reações. Em 1 Coríntios 14 Paulo dá diversas instruções aos irmãos sobre como devem se comportar em cultos onde as manifestações do Espírito acontecem e ele mostra que cada crente tem sim controle sobre seu comportamento.
Ele diz que os próprios irmãos devem “progredir para a edificação da igreja” (v. 12); diz que aquele que “fala outra língua deve orar para que a possa interpretar” (v. 13); diz que o crente deve “orar em espírito e também orar com a mente; cantar com o espírito e também cantar com a mente” (v. 15); Paulo mesmo diz que “prefere falar na igreja cinco palavras com o seu entendimento para poder instruir outros” (v. 19); ele inclusive diz que “os irmãos não devem ser meninos no juízo” (v. 20). Entendemos então que ao falar sobre o que fazer ou não num culto público, Paulo diz que todas as coisas que forem feitas “devem ser feitas de uma forma que traga edificação” (v.26).
Outras instruções também são dadas ao longo do capítulo 14, mas a essência da mensagem é que “tudo seja feito com decência e ordem”, “porque Deus não é de confusão, e sim de paz, como em todas as igrejas dos santos” (vv. 40, 33).
O que isso nos ensina é que temos sim o controle sobre nossa participação nas coisas de Deus durante um culto e devemos “progredir” para não causar confusão e também para promover a edificação do corpo de crentes.
A essência do que é ensinado em 1 Coríntios 14 é que podemos, e devemos, usar nosso juízo com entendimento e assim aprender a viver experiências durante a oração que possam ser uma bênção não só para nós mesmos, como também para os outros que convivem conosco ou estão ao nosso redor.