O Dia do Senhor e a Apostasia em 2Tessalonicenses 2
Ministrando a Palavra de Deus com Graça e Muita Alegria!
Ao repetir aquilo que Paulo chama de “tradição cristã pré-tribulacionista”, ele afirma que a Tribulação não começará sem que primeiro venha a retirada da Igreja (a apostasia), e assim seja revelado o Anticristo. Porém, como a palavra apostasia se consagrou em nossas sociedades como sinônimo de “abandono da fé”, muitos não conseguem compreender o texto em seu sentido original, pretendido por Paulo.
A implantação da Igreja em Tessalônica foi relativamente conturbada, havendo oposição e sentenças por parte das autoridades contra os novos crentes da cidade. Pouco tempo depois, devido à grande perseguição que estavam enfrentando, alguns irmãos começaram a supor que a Tribulação tinha começado. Assim, a igreja em Tessalônica passou a ser perturbada por insinuações pós-tribulacionistas de que os aspectos punitivos do Dia do Senhor haviam começado. Paulo, então, escreve uma segunda carta aos crentes da cidade para lembrar-lhes das mesmas coisas que já havia falado quando esteve presente e também na primeira carta que havia sido enviada. Ou seja, que primeiro os vivos seriam arrebatados, e, somente depois, os ímpios enfrentariam os horrores do Dia do Senhor e que de modo nenhum eles escaparão.
Ao repetir aquilo que Paulo chama de “tradição cristã pré-tribulacionista”, ele afirma que a Tribulação não começará sem que primeiro venha a retirada da Igreja (a apostasia), e assim seja revelado o Anticristo. Porém, como a palavra apostasia se consagrou em nossas sociedades como sinônimo de “abandono da fé”, muitos não conseguem compreender o texto em seu sentido original, pretendido por Paulo.
Na época em que Paulo usou a palavra ela tinha essencialmente o significado de “partida, retirada, afastamento, ausência ou desaparecimento”, e, por isso, dependendo do contexto, também era usada como “rebeldia, revolta ou heresia”. A palavra aparece 20 vezes no Novo Testamento Grego em diferentes classes gramaticais, às vezes como verbo, às vezes como substantivo. Três vezes como substantivo neutro (Mt 5.31, Mt 19.7, Mc 10.4), duas vezes como substantivo feminino (2Ts 2.3, At 21.21) e quinze vezes como verbo (Lc 2:37, Lc 4:13, Lc 8:13, Lc 13:27, At 5:37, At 5:38, At 12:10, At 15:38, At 19:9, At 22:29, 2Co 12:8, 1Tm 4:1, 1Tm 6:5 na versão ACF, 2Tm 2:19, Hb 3:12). Se não fossem por três ou quatro dessas passagens, todas elas estariam sendo usadas no sentido de afastamento físico, com a ideia clara de locomoção de um lugar para outro. Apenas três ou quatro dessas passagens usam a palavra como esfriamento da fé ou abandono de convicções religiosas.
Dicionaristas que produziram léxicos com o objetivo de tratar sobre os vocábulos gregos do período clássico e da era patrística, afirmam que a palavra era comumente usada em contextos variados e não se restringia à aspectos religiosos como se supõe em nossos dias. Olhar para a palavra em texto antigo, como Segunda Tessalonicenses 2.3, e atribuir-lhe o sentido no qual ela se consagrou em nossos dias, é um erro comum, conhecido como anacronismo. Muitas traduções e verões bíblicas estão corrigindo esse erro. Uma das que mais gosto de mencionar é a Tradução Expandida do Novo Testamento de Kenneth S. Wuest. O autor fora professor emérito de grego do Novo Testamento no Instituto Bíblico Moody e publicou seu Novo Testamento no ano de 1961. Sua tradução de 2Tessalonicenses 2.3 diz o seguinte:
Além disso, o Léxico de Lampe, que trata sobre as palavras gregas da era patrística (35 d.C. a 749 d.C.), nos fornece um exemplo de utilização da palavra apostasia como partida, no sentido físico, tirado de uma obra apócrifa do 5º século. A obra se chama “A Assunção da Virgem”. O mais interessante deste exemplo é que a palavra apostasia (ἀποστασία) é usada exatamente para descrever uma transladação física, um arrebatamento. Derek Walker, nas páginas 130 e 131 do seu livro “o arrebatamento pré-tribulacional”, transcreve a citação apócrifa que aparece no dicionário de Lampe ao tratar sobre a palavra apostasia. Observe:
É de vital importância para o nosso estudo que a palavra grega apostasia tenha sido usada em um texto do 5º século para descrever a retirada de um grupo de pessoas de um lugar para outro, no sentido físico. Entenda que a menção de um texto apócrifo não tem por objetivo examinar a doutrina que aparece no texto, mas a historicidade da utilização da palavra ou do conceito. Embora o documento não tenha valor doutrinário, não se pode ignorar seu valor histórico.
Voltando à carta escrita por Paulo, observamos que a pretensão do apóstolo era relembrar aos tessalonicenses que a ordem dos acontecimentos seria a seguinte: Primeiro a retirada da Igreja, em seguida a Manifestação do Anticristo e por último os aspectos punitivos do Dia do Senhor, também comumente chamados de “Tribulação”.
Paulo inicia o capítulo dois falando da perturbação causada pela interpretação pós-tribulacionista e o conclui relembrando-lhes da esperança pré-tribulacionista:
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