O Dragão, a Besta e o Falso Profeta
A PALAVRA “BESTA” EM APOCALIPSE
Na versão Revista e Atualizada de João Ferreira de Almeida a palavra “besta” aparece 37 vezes entre 29 versículos do texto de Apocalipse. Todas as aparições da palavra no texto foram traduzidas da palavra grega “theríon” (θηρίον), que significa simplesmente “bicho, animal, fera”. Nada mais e nada menos. A mesma palavra aparece em textos “não-proféticos” com este mesmíssimo significado, observe:
Atos 11.6
E, fitando para dentro dele os olhos, vi quadrúpedes da terra, FERAS, répteis e aves do céu.
Tiago 3.7
Pois toda espécie de FERAS, de aves, de répteis e de seres marinhos se doma e tem sido domada pelo gênero humano.
Tito 1.12
Foi mesmo, dentre eles, um seu profeta, que disse: Cretenses, sempre mentirosos, FERAS terríveis, ventres preguiçosos.
Hebreus 12.20
Pois já não suportavam o que lhes era ordenado: Até um ANIMAL, se tocar o monte, será apedrejado.
Atos 28.4
Quando os bárbaros viram a VÍBORA pendente da mão dele, disseram uns aos outros: Certamente, este homem é assassino, porque, salvo do mar, a Justiça não o deixa viver.
Todas as palavras em letras maiúsculas, nos versículos acima, foram traduzidas da mesma palavra grega “theríon” (θηρίον), que, em Apocalipse, fora traduzida simplesmente por “besta”. Embora eu não tenha conhecimento do porquê ou de como isso começou a acontecer na história da Igreja, sabemos que, comumente, as pessoas fazem uma associação entre a palavra “besta” e a pessoa do Anticristo, cuja interpretação pretendo contestar neste artigo. Além disso, para esclarecimento, é importante dizer que o termo “anticristo” será usado aqui, neste texto, como referência ao “homem da iniquidade” (2Tessalonicenses 2.3) e nunca como referência a qualquer suposto “sistema” ou “governo”. A palavra “Anticristo”, em meus textos, será sempre uma referência a um homem.
Levando em consideração o significado da palavra grega, que em Apocalipse fora traduzida por besta, compreendemos que, no texto de Apocalipse, João está simplesmente dizendo que viu “bichos” ou “animais” em determinadas cenas proféticas.
TRÊS ANIMAIS IMPORTANTES
Muitos animais são mencionados por João em seu livro, mas, de todos, gostaria de mencionar apenas quatro deles:
- Um bicho que sobe do mar (Apocalipse 13.1,2);
- Um bicho que sobe da terra (Apocalipse 13.11-17);
- Um bicho que sobe do abismo (Apocalipse 11.7);
- E o maior e mais importante animal de todos, o dragão (Apocalipse 12.3).
O DRAGÃO
Os antigos usavam o termo “dragão” para se referir aos grandes animais que em nossos dias costumamos chamar de “dinossauros”. A palavra “dinossauro” (lagarto terrível) foi criada em 1842, pelo estudioso de fósseis Richard Owen, para designar genericamente ao grande grupo de répteis que habitou a Terra em épocas passadas.
Acredito que para compreendermos o que estas partes do texto de Apocalipse estão tentando nos dizer, precisamos, antes de tudo, interpretar o que representa cada animal mencionado no texto profético. Não me refiro a interpretar os textos com base em nossa criatividade e especulação, e sim em procurar textos na própria Bíblia que possam nos ajudar a entender o que estes animais possam representar.
Quanto ao dragão, temos textos diretos, que falam claramente como este animal deve ser compreendido, observe:
Apocalipse 12.9
E foi expulso o grande DRAGÃO, A ANTIGA SERPENTE, QUE SE CHAMA DIABO E SATANÁS, o sedutor de todo o mundo, sim, foi atirado para a terra, e, com ele, os seus anjos.
Apocalipse 20.2
Ele segurou o DRAGÃO, A ANTIGA SERPENTE, QUE É O DIABO, SATANÁS, e o prendeu por mil anos.
Sendo assim, este animal não precisa ser interpretado de qualquer outra forma diferente, pois, segundo o texto, o dragão representa Satanás. O texto não está necessariamente dizendo que Satanás é um dragão, nem que os antigos dragões eram demônios. O texto está simplesmente usando este animal como representação do Diabo.
O BICHO QUE SOBE DO MAR
Aparentemente, dois dos quatro animais mencionados acima, são indicações do mesmo animal, que parece ser mencionado por expressões levemente diferentes. Refiro-me ao “animal que sobe do mar” e ao “animal que sobe do abismo”. Embora saibamos que a palavra abismo seja usada com implicações espirituais de submundo, como uma referência às regiões espirituais inferiores à terra, é possível que a palavra também esteja ligada ao sentido de “fossas abissais”, que representam o lugar mais profundo do mar. Assim, “a besta que sobe do mar”, seria, talvez, uma referência à mesma besta que “sobe do abismo”. Além, é claro, das implicações espirituais que isto pode conter, pois a expressão “besta que sobe do abismo”, pode também ser uma referência a uma entidade espiritual do mal que será liberada para agir no mundo, no tempo determinado.
Em Apocalipse 13.1-8 temos a primeira descrição detalhada daquela que é conhecida como “a besta que sobe do mar”. Porém, não é o único texto de Apocalipse que se propõe a tratar sobre algumas das suas características. O mesmo bicho será novamente mencionado no capítulo 17. Sabemos que se trata do mesmo animal, pois o primeiro bicho que João viu em Apocalipse 13 tinha sete cabeças, dez chifres e dez diademas, e, sobre as cabeças, havia nomes de blasfêmia, e, em Apocalipse 17, o bicho visto por João é vermelho, repleto de nomes de blasfêmia, com sete cabeças e dez chifres. Não são dois animais distintos com o mesmo número de cabeças e chifres, são apenas dois textos diferentes falando do mesmo animal. Inclusive, em Apocalipse 17.8 o mensageiro celeste diz a João: “a besta que viste está para emergir do abismo…”, o que também nos leva a pensar que “a besta que sobe do abismo” é a mesma “besta que sobe do mar” (Apocalipse 13.1). Resumindo, os textos de Apocalipse 13.1-8 e Apocalipse 17.3,7-18, estão descrevendo características, propósitos e ações de um mesmo animal. Curiosamente, este animal vermelho de sete cabeças, dez chifres e dez diademas, tem praticamente a mesma aparência do outro animal que representa Satanás, isto é, o dragão. Veja:
Apocalipse 12.3
Viu-se, também, outro sinal no céu, e eis um DRAGÃO, grande, VERMELHO, com SETE CABEÇAS, DEZ CHIFRES e, nas cabeças, sete diademas.
A única diferença é que o bicho que sobe do mar tem dez diademas, talvez em conexão aos dez chifres que possui, e o bicho que representa Satanás tem sete diademas, talvez em conexão com o número de cabeças. O que quer que este bicho que sobe do mar possa representar, tudo indica que ele retrata a mais perfeita expressão de Satanás no tempo do fim.
O BICHO QUE SOBE DA TERRA
Apocalipse 13.11
Vi ainda OUTRA BESTA emergir da terra; possuía dois chifres, parecendo cordeiro, mas falava como dragão.
Além do dragão, que é o bicho que representa Satanás e do bicho que sobe do mar, que parece ser o mesmo bicho que sobe do abismo, Apocalipse também fala de um “bicho que sobe da terra”. Se de alguma forma, o “abismo” (ou fossas abissais) representa as regiões inferiores às terra de onde surgem demônios, a “terra” pode ser uma referência ao lugar de onde surgem os homens. De qualquer forma, independente de qual seja o possível significado da palavra “terra” em Apocalipse 13.11, o fato é que esta segunda besta que surge pouco depois da primeira no mesmo capítulo, não será novamente mencionada em todo o livro de Apocalipse.
Três passagens no livro de Apocalipse podem ser usadas para demonstrar o “desaparecimento” desta segunda besta mencionada no capítulo 13 do livro, observe:
Apocalipse 16.13
Então, vi sair da boca do DRAGÃO, da boca da BESTA e da boca do falso profeta três espíritos imundos semelhantes a rãs;
Apocalipse19.20
Mas a BESTA foi aprisionada, e com ela o falso profeta que, com os sinais feitos diante dela, seduziu aqueles que receberam a marca DA BESTA e eram os adoradores da sua imagem. Os dois foram lançados vivos dentro do lago de fogo que arde com enxofre.
Apocalipse 20.10
O DIABO, o sedutor deles, foi lançado para dentro do lago de fogo e enxofre, onde já se encontram não só A BESTA como também o falso profeta; e serão atormentados de dia e de noite, pelos séculos dos séculos.
Observe que os textos acima mencionam o dragão e “a besta”, que sabemos ser uma referência à besta que sobe do mar, pois ela aparece ao longo de todo o livro, em lugares e contextos diferentes. Porém, “a segunda besta”, que sobe da terra, jamais é mencionada novamente. Acredito que a segunda besta é mencionada no texto de Apocalipse 13 apenas para apontar que um profeta falso surgirá de um contexto diferente daquele que envolve o surgimento da primeira besta. Talvez esta seja a forma de Deus revelar a João aquilo que também fora revelado a Daniel conforme registrado no capítulo sete do livro que leva o seu nome.
Em Daniel 7.7 o profeta disse que viu primeiramente um “animal terrível, sobremodo forte e que tinha dez chifres”. Depois, contudo, ele diz que “enquanto observava os chifres daquele animal, um outro chifre pequeno apareceu, diante do qual três dos primeiros chifres foram arrancados”, e, por fim, ele acrescenta que este chifre que apareceu somente depois “tinha olhos e boca, como um homem, e que falava coisas insolentes” (Daniel 7.7,8,11,20).
Note que o “chifre pequeno”, que surgirá somente depois dos dez chifres terem sido vistos por Daniel, parece representar o último inimigo do povo de Deus que estará sobre a terra durante a Tribulação. Embora seja considerado pequeno, em comparação aos outros (Daniel 7.8), ao mesmo tempo, ele também é considerado “mais robusto que os outros chifres” (Daniel 7.20). É importante observar também que é especificamente este chifre, que se levanta depois, que “fará guerra contra os santos” (Daniel 7.21). E ele assim o fará até que venha o Ancião de Dias e faça justiça aos santos do Altíssimo (Daniel 7.22). Este chifre, que se levanta depois dos dez já terem aparecido, representa o Anticristo.
AS INTERPRETAÇÕES
Agora, mesclando os textos de Daniel e de Apocalipse, cabe a pergunta: O que cada besta do livro de Apocalipse representa? Bem, acredito que a chave para o entendimento correto destas questões se encontra no próprio texto bíblico do livro de Daniel, observe abaixo.
Quero destacar algumas partes do texto acima, confira:
- O quarto animal será um quarto reino;
- Os dez chifres correspondem a dez reis que se levantarão daquele mesmo reino;
- Depois dos dez reis, se levantará outro rei;
- O rei que surgirá depois da formação deste reino, será o Anticristo.
Adequando a revelação de Daniel à visão de João em Apocalipse 13, temos praticamente os mesmos elementos, ou seja: Primeiro surge um animal com dez chifres. Este animal parece representar o último reino humano fora da vontade de Deus, que será a última e mais representativa expressão de Satanás neste mundo. A segunda besta de Apocalipse 13 parece representar que o surgimento do Anticristo virá de outro contexto diferente, pois ele não fará parte da formação original dos dez reis. Ele não surge junto com o primeiro animal, ele aparece depois e está ligado a outro animal, que surge no cenário somente depois que o primeiro já apareceu.
Estes animais mencionados nestes textos proféticos parecem representar reinos, enquanto os chifres dos animais, parecem representar reis naquele reino. Daniel 7.23 diz “o quarto animal será um quarto reino na terra” e Daniel 7.24 acrescenta que “os dez chifres correspondem a dez reis, que se levantarão daquele mesmo reino”. O padrão profético nos textos parece ser o seguinte: As feras ou bichos representam os reinos ou impérios, e os chifres, que porventura forem citados, devem representar reis daquele mesmo reino ou império. De fato, em Apocalipse 17, enquanto o anjo explicava para João o que significavam os elementos daquele animal encarnado que havia subido do abismo, ele disse que “OS DEZ CHIFRES que viste SÃO DEZ REIS…” (Apocalipse 17.12). Se pudermos usar esta chave como princípio básico de interpretação, acredito que tudo ficará mais fácil de ser compreendido no livro de Apocalipse.
Se os animais representam reinos humanos e os chifres destes animais representam reis ou homens fortes dentro daquele reino, então, usando o texto de Daniel 7 como base, poderíamos interpretar o surgimento das duas bestas de Apocalipse 13 da seguinte forma:
Quando Apocalipse 13.11 diz que a segunda besta a surgir no cenário, “possuía dois chifres”, isso talvez signifique que duas nações se unirão em aliança, e pelo que o texto indica, também demonstrarão interesse em participar do império iniciado pelos outros dez reis. Na Bíblia, temos outro exemplo de um bicho com dois chifres sendo usado como representação de uma coalizão de duas nações. Em Daniel 8.19-20 está escrito:
19 e disse: Eis que te farei saber o que há de acontecer no último tempo da ira, porque esta visão se refere ao tempo determinado do fim. 20 AQUELE CARNEIRO COM DOIS CHIFRES, que viste, SÃO OS REIS DA MÉDIA E DA PÉRSIA…
Observe que o carneiro com dois chifres representava um império formado pela coalizão de duas nações soberanas: a Média e a Pérsia. Em outras palavras, os reis da Média e da Pérsia, uniram seus reinos em um bloco só, formando uma nova unidade, aquilo que passou a ser conhecido como o “império medo-persa”.
Para reforçar ainda mais a ideia quanto aos animais e os chifres, observe que em Daniel 8.21, o texto também diz: “…mas O BODE peludo é O REI DA GRÉCIA; O CHIFRE GRANDE entre os olhos É O PRIMEIRO REI”. Note que “o chifre grande representa o primeiro rei”. Esta é uma referência a Alexandre, o Grande, o primeiro rei do império grego. As bestas representam reinos, enquanto os chifres destes bichos representam reis. Quando o texto diz que “o bode peludo é o rei da Grécia”, isto deve ser compreendido que o reino é representado pelo seu rei, pois não existe reino sem rei; contudo, o texto não pretendia dizer que o animal representava o próprio Alexandre. De fato, de forma mais específica, observa-se que o próprio texto complementa a informação dizendo que “o grande chifre do bode peludo representa o primeiro rei”. Em outras palavras, o bode não é o rei, o chifre do bode é que representa o rei.
Em Apocalipse 13.13,14 o texto diz que é da segunda coalizão de nações que saem os sinais, e que, por causa deles, os habitantes da terra são seduzidos a construírem um ícone, uma imagem, àquele império que, embora houvesse sido destruído no passado, estará de volta na história. Depois disso, apenas em Apocalipse 16.13,14 é que o texto vai relatar que “da boca do dragão, da boca da besta e da boca do falso profeta saíram três espíritos imundos, operadores de sinais”. Tudo indica que este “falso profeta” mencionado em Apocalipse 16 tenha surgido daquele segundo animal que se levantou da terra no capítulo 13. Este homem, este profeta falso, parece ser o mesmo homem representado pelo chifre pequeno na revelação do capítulo sete de Daniel. Ele surge depois que o império anticristão se estabelece e assume a sua liderança depois de antipatizar e derrubar três dos reis da formação original.
Como havia dito, a segunda besta que havia subido da terra, jamais será mencionada novamente no livro de Apocalipse. O texto parecia querer apenas indicar que o profeta falso, operador de sinais, surgiria daquela segunda coalizão de nações, que somente aparece no cenário, após o estabelecimento daquele reino anticristão que fora representado pela primeira besta com seus dez reis. Este falso profeta é o sedutor, que opera sinais e prodígios mentirosos diante das dez nações que compõem aquele reino representado pelo primeiro bicho que sobe do mar.
Observe que tanto Paulo quanto João mencionam aspectos sobrenaturais da atuação do Anticristo, quando ele estiver no mundo. Este falso profeta mencionado por João é o mesmo chifre pequeno de Daniel e o mesmo homem do pecado ou iníquo mencionado por Paulo. Não havia um sindicato de escritores dos livros da Bíblia para que eles combinassem de que forma iriam chamar os personagens proféticos que apareciam em seus livros.
CONCLUSÃO
A utilização de animais em textos proféticos como representação de reinos humanos, é uma coisa que já vimos ser feita no livro de Daniel. O texto de Daniel, capítulo sete, descreve quatro animais, e cada animal representa um reino humano. Depois, Daniel capítulo 8 descreve outros dois animais, um carneiro e um bode, que também estavam ali para representar acontecimentos entre dois reinos humanos. Além disso, se os animais da visão concedida possuem chifres, então, naquele momento, o texto cita os chifres com o objetivo de enfatizar a presença de homens cuja liderança, ou importância, se destacam dentro daquele reino. Não entendo por qual razão Apocalipse, que faz tantas alusões ao texto de Daniel, usaria a imagem de um animal e seus chifres de forma diferente.
Daniel 7.17
ESTES GRANDES ANIMAIS, que são quatro, SÃO QUATRO REIS que se levantarão da terra.
A palavra “reis”, no versículo acima, está sendo usada como substituição dos reinos que representam e que se ergueriam a seu tempo. Afinal, não existe reino sem rei, nem há rei sem reino. Provavelmente a palavra “rei” está sendo usada como figura de linguagem para substituir o sentido pretendido que é, na verdade, “reino”. Como, por exemplo, alguém poderia dizer que “fulano ficou sem teto”, quando, na verdade, o “teto” está sendo usado para substituir “toda a casa”. A propósito, outras versões traduzem o mesmo texto usando as palavras “reinos” ou “impérios” em vez da palavra “reis”. Observe:
Daniel 7.17 – Nova Versão Internacional
Os quatro grandes animais SÃO QUATRO REINOS que se levantarão na terra.
Daniel 7.17 – Nova Versão Transformadora
Essas quatro grandes bestas REPRESENTAM QUATRO REINOS que surgirão da terra.
Daniel 7.17 – Bíblia Para Todos
Estes quatro animais enormes REPRESENTAM QUATRO IMPÉRIOS, que hão de surgir sobre a terra.
Quando os textos de Apocalipse mencionam aquele bicho com sete cabeças e dez chifres, acredito que seja uma referência a um grande império formado por pessoas de diversas nações, com seus respectivos líderes. Sendo assim, “a besta”, o animal que João viu, não seria o Anticristo, e sim, mais possivelmente, os guerreiros e apoiadores daquele reino sobre quem o Anticristo exercerá influência e sobre quem governará.
Apocalipse 13.1,2
1 Vi emergir do mar UMA BESTA que tinha dez chifres e sete cabeças e, sobre os chifres, dez diademas e, sobre as cabeças, nomes de blasfêmia. 2 A BESTA QUE VI ERA SEMELHANTE A LEOPARDO, COM PÉS COMO DE URSO E BOCA COMO DE LEÃO. E deu-lhe o dragão o seu poder, o seu trono e grande autoridade.
O texto acima afirma que a besta tinha a aparência de leopardo, pés de urso e boca de leão. Você acha mesmo que esta seja uma referência a um ser humano ou uma referência a um reino formado por pelo menos três nações que exercem papéis importantes neste império? Por outro lado, se “besta” for a palavra usada por João para descrever o Anticristo, como deveríamos entender que sua aparência é semelhante a de um leopardo, que seus pés são como os pés de um urso e que ele tem uma boca, como a de um leão? Não seria mais simples admitir que que tais animais representam as mesmas nações que são retratadas na profecia de Daniel quando ele menciona os mesmos nomes?
Os animais nos textos proféticos de Daniel e Apocalipse são quase unanimemente usados como representação de nações, reinos ou impérios, e não de indivíduos, por quê deveríamos mudar isso agora?
Se no texto acima, de Apocalipse 13, aquele bicho representa um reino formado por nações, eu gostaria de saber o seguinte: Em que momento, no mesmo livro de Apocalipse, aquela fera deixou de representar um reino para representar um homem?
Aliás, se João está mesmo usando a palavra “besta” para representar um homem, o Anticristo, e não da forma padrão no texto profético, isto é, para representar um reino ou império, gostaria de saber o seguinte: Por qual razão, ao explicar o significado da aparência da besta, o anjo diz a João que suas sete cabeças representam sete montes, que são sete reinos, dos quais já caíram cinco?
Se a besta é o Anticristo, como querem alguns, isto significaria que o livro de Apocalipse está nos ensinando que ele terá sete cabeças? É isso mesmo meu Deus?
É exatamente por causa desse tipo de confusão interpretativa que até hoje muita gente diz que “o Anticristo vai morrer e ressuscitar”. Isto porque, baseando-se em Apocalipse 13.12, dizem que a “primeira besta recebeu uma ferida mortal, mas foi curada”. Para quem pensa que “besta” é sinônimo de “Anticristo”, a especulação com base neste versículo se torna um prato cheio. Porém, o que estes irmãos não perceberam é que o texto de Apocalipse diz que a ferida mortal foi apenas em UMA das suas SETE cabeças! Lembre-se, aquela besta tem sete cabeças!
Apocalipse 13.3
Então, vi UMA de SUAS CABEÇAS como golpeada de morte, mas essa ferida mortal foi curada; e toda a terra se maravilhou, seguindo a besta;
Afinal, já que o Antigo Testamento fala tanto sobre o futuro aparecimento do Anticristo, por que será que não existe pelo menos uma banda de versículo no Antigo Testamento falando também de outro homem, além do Anticristo, que exerceria o papel de um “falso profeta”, que o próprio Anticristo não exercerá?
Será mesmo que as Escrituras preveem o futuro aparecimento do Anticristo e do secretário dele, o falso profeta? Ou, quem sabe, Anticristo e Falso Profeta são apenas dois dos muitos títulos que o mesmo homem do pecado recebe ao longo do texto sagrado?
Se Paulo diz que o Anticristo realizará sinais, qual seria a necessidade de outro homem fazer exatamente as mesmas coisas que ele já faz? Será que a Bíblia está mesmo falando sobre dois homens que farão sinais? Ou, será que são apenas textos diferentes falando da mesma pessoa?
Se os animais representam reinos ou nações, é possível que Apocalipse 13 esteja apenas falando sobre acontecimentos importantes relacionados a dois grupos de nações. O primeiro grupo diz respeito a uma confederação de nações que por todo o livro de Apocalipse é considerado como o último império humano anticristão, que passará a ser liderado posteriormente pelo Anticristo, e o segundo animal fala de onde surgirá o operador de sinais, que o texto de Apocalipse chamará de falso profeta, mas que é o mesmo Anticristo de sempre.
O Primeiro animal não é o Anticristo, mas representa o reino que ele governará. Observe, porém, que quem exerce toda a autoridade da primeira besta em sua presença é exatamente o profeta que surge depois. Este profeta sim, parece ser o Anticristo.
Veja que ele, que surge desta segunda coalizão de nações de Apocalipse 13.11, é quem faz o povo se curvar em reverência ao que este reino representa (Apocalipse 13.12). Ele é quem dá a ordem para a construção da “imagem da besta”, que deverá ser uma espécie de monumento que sirva de memorial para este reino reerguido (Apocalipse 13.14, Apocalipse 19.20). Ele é quem tem a autoridade para dar voz à imagem da besta. Quando esta voz soar, todos deverão se curvar, e, quem não se prostrar, poderá ser morto por ordem dele (Apocalipse 13.15). Ele é quem dá a ordem a todos para que usem o emblema oficial do reino (Apocalipse 13.16). Ele opera sinais enganosos e isso o faz ser chamado de profeta, ainda que falso, mas ele é quem está no comando.
O Anticristo é um profeta falso, de uma religião falsa, que se unirá a uma confederação de dez reis e assumirá a sua liderança. Poderá surgir como um chifre pequeno, mas depois mostrará ser mais robusto do que os seus companheiros e os liderará. Será um operador de sinais, enganosos, mas que serão suficientes para seduzir os povos simpatizantes deste novo império que estará sob sua influência. Seu discurso será abominável aos olhos de Deus, e ele falará coisas terríveis contra o Deus de Israel. Terá um ódio particular contra os judeus e os perseguirá em ocasião oportuna.
Nem todas as vezes que a primeira besta é mencionada ao longo do livro de Apocalipse, o falso profeta é mencionado, mas todas as vezes que o falso profeta é mencionado, a primeira besta é mencionada juntamente com ele, sem exceção. Isso acontece por que o movimento em prol do estabelecimento deste último reino anticristão inicia antes do profeta falso entrar em cena para assumir a sua liderança. No entanto, depois que ele se torna o líder espiritual, político e militar deste império, todas as vezes que ele é citado, a besta, que representa este império, é mencionada também. Abaixo, os únicos textos de Apocalipse onde o falso profeta é mencionado:
Apocalipse 16.13
Então, vi sair da boca do dragão, DA BOCA DA BESTA E DA BOCA DO FALSO PROFETA três espíritos imundos semelhantes a rãs.
Apocalipse 19.20
Mas A BESTA FOI APRISIONADA, E COM ELA O FALSO PROFETA que, com os sinais feitos diante dela, seduziu aqueles que receberam a marca da besta e eram os adoradores da sua imagem. Os dois foram lançados vivos dentro do lago de fogo que arde com enxofre.
Apocalipse 20.10
O diabo, o sedutor deles, foi lançado para dentro do lago de fogo e enxofre, onde JÁ SE ENCONTRAM NÃO SÓ A BESTA COMO TAMBÉM O FALSO PROFETA; e serão atormentados de dia e de noite, pelos séculos dos séculos.
A palavra “besta” não é um termo técnico para se referir ao “Anticristo”. Algumas pessoas, vez por outra, citam o segundo texto acima para argumentar que a Bíblia estaria falando que “o Anticristo e o Falso Profeta” seriam aprisionados ou lançados no lago de fogo. No entanto, o texto não disse isso, e sim que “a Besta e o Falso Profeta” foram aprisionados e lançados no lago de fogo. A pergunta é: a palavra “besta”, do texto em questão, está mesmo se referindo a uma pessoa? Um homem? Ou o texto profético usa tal palavra como representação de outra coisa que não seja um indivíduo?
Os três personagens que aparecem nos textos acima são: o dragão, que representa o diabo, Satanás. A besta, que representa o último império anticristão da terra. O falso profeta, que é o Anticristo e o sedutor e líder das nações que fazem parte daquele império.
Aquele primeiro animal de Apocalipse 13, com sete cabeças e dez chifres, representa a manifestação massiva da vontade de um povo que possui uma mesma ideologia e que compartilha do mesmo objetivo. Este animal, que é citado em todos os textos de Apocalipse, representa o último reino anticristão da história humana, que se erguerá contra judeus e cristãos convertidos da Tribulação.
Embora possam surgir algumas dúvidas e dificuldades na intepretação dos textos de Apocalipse em relação a quais governos ou nações aqueles animais representam, acredito que compreender como a imagem das feras são utilizadas no texto profético, já ajuda bastante ao estudante de Escatologia quanto ao rumo que deve tomar. Isso facilitará muito na compreensão das figuras e simbolismos que aparecem no texto.
Eu sei o quão difícil é para o ser humano pensar “fora da caixa”, mas, ao mesmo tempo, acredito que quando deixamos a palavra de Deus interpretar a ela mesma, com a ajuda do Espírito Santo, as coisas começam a clarear em nossa mente.