DEUS E O CORAÇÃO DE FARAÓ
PERGUNTA:
No seu modo de ver, quando Deus inicia a história, ele já determina o fim dela, ou ele simplesmente dá o “start” e as coisas acontecem de acordo com as nossas escolhas, mesmo que ele já saiba o final? Parece que, no Calvinismo, para Deus saber o futuro, ele tem a necessidade de o ter determinado. Como isso funciona?
RESPOSTA:
Eu penso que Deus interage com os homens à medida que cada um deles vai vivendo em sua própria geração, e isso significa que se Deus interage ele também interfere. Porém, essa interferência não é impositiva e arbitrária. Toda ação de Deus é sempre de acordo com a sua natureza revelada em sua palavra.
Ele não perde o controle da história, mas não precisa controlar as escolhas humanas para isso. Por exemplo, Deus disse a Moisés que “Já sabia que Faraó não deixaria o povo sair do Egito” (Êxodo 3.19), mas não foi Deus que “fez faraó não deixar”, para que “ele soubesse disso”. Porém, sabendo disso, Deus decidiu fazer do seu jeito: iludiu faraó fazendo-o pensar que poderia resistir a Deus.
Deus enviou pragas suportáveis, dando ao orgulhoso faraó a impressão de que poderia desobedecer a Deus sem maiores consequências. As Escrituras dizem que “passadas as pragas, ao ter alívio, Faraó continuou de coração duro, como Deus já tinha dito” (Êxodo 8.15). Ou seja, Faraó pensou que não seria tão difícil desobedecer e endureceu o coração. Por outro lado, Deus mesmo deu corda para Faraó se enforcar, pois Deus poderia tê-lo destruído num instante, mas não o fez de propósito. Nesse sentido, também podemos dizer que “Deus endureceu faraó”. No entanto, não foi Deus quem “determinou” ou “decretou” que o coração dele ficasse duro. Não foi Deus quem fez faraó desobedecer. Eclesiastes 8.11 explica que “Quando não se executa logo a sentença sobre a má obra, o coração dos filhos dos homens fica inteiramente disposto a praticar o mal”. Assim, o coração de Faraó foi ficando cada vez mais obstinado em desobedecer a Deus, achando que não haveria consequências. Por outro lado, Deus não foi surpreendido em nada, mas também não foi ele quem fez faraó ser como era ou fazer o que fez.
De grosso modo, poderíamos dizer que é como um enxadrista experiente que tem o tempo do jogo numa partida, e enxergando muitas jogadas na frente, até pode entregar a Dama, se quiser, para finalizar com um xeque-mate. Porém, a capacidade superior do enxadrista experiente não pode ser usada para dizer que houve injustiça da parte dele, pois ele não fez seu oponente ser quem ele era, pensar como ele pensava, ou agir como ele agiu. Todas as ações do oponente ingênuo foram escolhidas por ele mesmo. O enxadrista experiente foi superior pela capacidade intrínseca à sua pessoa, mas ele jogou segundo as regras.