A Parábola das Dez Virgens mostra que não haverá Salvação após o Arrebatamento?
GRAÇA PARA A SALVAÇÃO
Um tempo atrás alguns irmãos vieram me interrogar se a parábola em questão realmente ensinava que, depois do arrebatamento, “as portas da graça se fechariam” e seria impossível que alguém fosse salvo durante o período tribulacional. A dúvida surgiu por causa de um vídeo de um querido pregador brasileiro que havia feito tal afirmação.
Embora estejamos, de fato, sob a Nova Aliança, período de graça abundante disponível a todos (Tito 2.11, Romanos 5.17), isso não significa que a graça de Deus não tenha estado disponível antes ou que não estará disponível depois do tempo da Igreja. A Igreja nasce no Pentecostes e tem o fim do seu período na terra no Arrebatamento, mas a graça de Deus continuará disponível aos homens. No primeiro livro da Bíblia já estava escrito que “Noé achou graça diante do Senhor” (Gênesis 6.8). Isso demonstra que a graça de Deus sempre esteve disponível aos homens, mesmo antes da sua mais excelente manifestação por meio de Jesus Cristo. Da mesma forma, textos bíblicos revelam que a graça de Deus estará também disponível durante o período tribulacional, mesmo depois que o tempo de Igreja de Cristo houver passado.
Há diversos textos que ensinam que haverá salvação durante a Tribulação. Embora isso não queira dizer que aquele será um tempo da história humana que possa ser comparado ao tempo que vivemos hoje, ainda assim, muitos serão salvos. E, ainda que os crentes da tribulação sejam sumariamente perseguidos ou executados pela sua fé, não há coisa alguma que indique que será vedada aos homens a capacidade de se arrependerem, e, finalmente, fazerem as pazes com Deus. Assim como em nossa época muitos crentes são perseguidos e mortos em países islâmicos por causa da sua fé, mas, ainda assim, mesmo debaixo de todo o terror e perseguição, seus testemunhos fazem com que muitos que lá se encontram abracem a fé em Cristo, da mesma forma, muitos homens temerão a Deus e crerão em Cristo através dos inúmeros sinais e eventos que testemunharão sobre a glória de Deus, durante o período da Tribulação.
SALVAÇÃO NA TRIBULAÇÃO
O anjo Gabriel disse a Daniel que “Nesse tempo [da Tribulação], se levantará Miguel, o grande príncipe, o defensor dos filhos do teu povo [hebreu], e haverá tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até àquele tempo; mas, NAQUELE TEMPO, SERÁ SALVO o teu povo, todo aquele que for achado inscrito no livro” (Daniel 12.1).
Pelo palavreado apresentado no texto de Daniel, não há dúvidas de que ele esteja falando sobre a Tribulação Escatológica: “tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até àquele tempo”. O próprio Jesus, citando partes do livro de Daniel, afirmou: “Quando virdes o abominável da desolação de que falou o profeta Daniel, no lugar santo, então, os que estiverem na Judéia fujam… porque NESSE TEMPO haverá grande tribulação, como desde o princípio do mundo até agora não tem havido e nem haverá jamais” (Mateus 24.15, 16 e 21). É linguagem bíblica comum se referir ao período tribulacional com esta singularidade. É muito comum que as Escrituras usem expressões que demonstrem o quão excepcional será o “tempo de angústia para Jacó”. Será, como se sabe, um tempo de juízo e angústia inigualável tanto para trás, quanto para a frente na história humana.
Quando em Daniel 12.1 o anjo Gabriel afirmou que, durante a Tribulação, o anjo Miguel “se levantaria em defesa do povo hebreu”, isso já havia deixado implícito que haveria “grande aflição na terra e ira contra este povo” (Lucas 21.23). De fato, a Tribulação será um período em que a ira de Deus se manifestará trazendo punição aos pecadores da terra, dos quais, os judeus ocupam o primeiro lugar da fila. Além da punição associada ao período tribulacional, aquele também será um tempo de quebrantamento e arrependimento por parte daqueles que se humilharem e reconhecerem seus erros.
No caso específico do povo judeu, Paulo chegou mesmo a afirmar que embora atualmente os judeus estejam parcialmente endurecidos, chegará o dia em que “todo o Israel será salvo” (Romanos 11.25, 26). Embora estes e outros textos indiquem que durante a Tribulação “o povo de Daniel será salvo”, como afirmou o anjo Gabriel no texto de Daniel, isso não significa que não existam textos falando sobre a salvação de pessoas de outras nações da terra. A oportunidade de arrependimento se estenderá a todos os homens, primeiramente aos judeus, mas também aos gentios.
As palavras de advertência deste anjo voando pelo céu, que serão proferidas naquele dia, não serão em vão. Não serão apenas palavras jogadas ao vento. Sua conclamação solene, com real possiblidade de cumprimento prático, é para que os homens “temam a Deus, deem-lhe glória”, e, finalmente, “o adorem”. Elas têm por objetivo causar temor no coração dos homens e assim conduzi-los ao arrependimento. Deus também dissera a João: “Darei às minhas duas testemunhas que profetizem por mil duzentos e sessenta dias, vestidas de pano de saco” (Apocalipse 11.3). Estes homens teriam sido separados por Deus para profetizar ao léu? Sem um propósito ou objetivo prático? Claro que não. As próprias roupas destes profetas do período tribulacional, de acordo com a cultura judaica, rementem seus ministérios à uma missão de proclamação de juízo, lamento e conclamação ao arrependimento. De fato, depois que estes profetas tiverem concluído o testemunho que devem dar, a Bíblia diz que eles serão assassinados e seus corpos ficarão estirados num platô da cidade de Jerusalém (Apocalipse 11.8). Porém, depois de três dias e meio, eles serão ressuscitados à vista de todos e a consequência deste grande sinal será que os homens “ficarão sobremodo ATERRORIZADOS e DARÃO GLÓRIA AO DEUS DO CÉU” (Apocalipse 11.13).
Lembre-se, também, que, no ressoar da quinta trombeta, uma praga de gafanhotos venenosos subirá do inferno para causar dano somente aos homens que “não tiverem o selo de Deus sobre a fronte” (Apocalipse 9.4). Alguns gostam de pensar que este texto estaria falando sobre os atuais membros da Igreja Cristã que, por terem sido “selados quando nasceram de novo”, enfrentarão a Tribulação com certa proteção divina. No entanto, observe que o texto não está falando sobre homens de Deus que supostamente tenham sido selados “antes do período tribulacional”. O livro de Apocalipse se refere “ao selo de Deus” que será posto especificamente sobre os 144 mil judeus celibatários, oriundos das 12 tribos de Israel, que, muito provavelmente, terão a missão de proclamar às nações da terra a verdade a respeito de Cristo (Apocalipse 7.1-9, Apocalipse 14.1,4). De fato, ao falar sobre o episódio, João diz o seguinte: “Vi outro anjo que subia do nascente do sol, tendo o SELO DO DEUS VIVO, e clamou em grande voz aos quatro anjos, aqueles aos quais fora dado fazer dano à terra e ao mar, dizendo: Não danifiqueis nem a terra, nem o mar, nem as árvores, ATÉ SELARMOS NA FRONTE OS SERVOS do nosso Deus” (Apocalipse 7.2,3). Observe que estes homens não entrarão na Tribulação já sendo possuidores de algum tipo de “selo divino”, como se isso fosse uma referência aos salvos do período da Igreja entrando na Tribulação. O texto demonstra que eles serão selados em meio aos acontecimentos do período tribulacional, mais especificamente entre os castigos do sexto selo e os flagelos da primeira trombeta (Apocalipse 6.12, Apocalipse 8.7).
A primeira parte do capítulo sete de Apocalipse fala de um número limitado de judeus sendo selados para um serviço, e depois, na segunda metade, fala de uma multidão incontável de pessoas oriundas de todas as nações da terra, que estavam sendo salvas. Depois que aqueles 144 mil homens de Deus foram separados para o serviço durante o período tribulacional, João disse que viu “uma grande multidão de salvos que não seria possível contar”. Fica implícito no texto que esta multidão tenha sido salva por meio daqueles servos de Deus que, na primeira parte de Apocalipse 7, haviam sido selados. Ao relatar sua conversa com um dos anciões celestes, João disse que o ancião lhe explicou que os indivíduos daquela multidão “são os que vêm da grande tribulação, e lavaram e alvejaram suas vestes no sangue do Cordeiro” (Apocalipse 7.14). Nesta passagem vemos 144 mil judeus selados para o serviço e uma multidão de pessoas de outras nações da terra sendo salvas durante a Tribulação.
Leia atentamente o capítulo sete de Apocalipse e observe que ele não está falando sobre salvação durante o período da Igreja, pois ele faz uma clara distinção entre os judeus enumerados e os gentios impossíveis de enumerar. Uma das marcas da era da Igreja é justamente a indistinção entre judeus e gentios crentes. O período da Tribulação será um tempo diferente. Depois que o tempo da Igreja houver encerrado e o juízo de Deus estiver sendo derramado na terra, Deus voltará a tratar diretamente com Israel e a partir de Israel com o restante do mundo.
Ao longo do livro de Apocalipse você vai encontrar textos mostrando homens de corações empedernidos, impenitentes, que blasfemam a Deus, e também vai encontrar textos mostrando homens temendo e glorificando a Deus, arrependidos. Se você se detiver apenas em textos que falam que homens blasfemaram por causa dos flagelos, você pode pensar que ninguém se converterá. Se você se detiver apenas em textos que falam de homens atemorizados, que, consequentemente, passaram a glorificar a Deus, você poderia supor que todos os homens se arrependerão. Não podemos escolher uns em detrimento dos outros. Não é uma questão de escolher entre estes ou aqueles, pois precisamos de todos os textos para que tenhamos uma visão mais ampla sobre a situação dos homens no período tribulacional.
QUATRO GRUPOS DURANTE A TRIBULAÇÃO
As Escrituras parecem ensinar que, naquele período, haverá, pelo menos, quatro grupos de pessoas entre os habitantes do mundo:
- Os impenitentes anônimos entre os homens, que não se arrependerão (Ap 16.9,11)
- Os partidários e seguidores do Anticristo, sob quem cairá forte condenação (2Ts 2.9-12 Ap 13.2, Ap 16.10)
- Aqueles do povo judeu, que, sob severo castigo, se arrependerão e serão salvos (Dn 12.1, Rm 11.26, Ap 11.13, Ap 20.4)
- E os povos de outras nações da terra, que, na última hora da história, também lavarão suas vestes no sangue do Cordeiro (Ap 7.9-13, Ap 15.2, Ap 20.4)
Muita coisa poderia ser dita sobre a salvação durante o período tribulacional e muitos outros textos poderiam ser citados. O livro de Apocalipse está recheado de registros de homens passando a temer a Deus e dando-lhe glória em virtude de todos os acontecimentos grandiosos e também por causa do testemunho e ministério de anjos, dos dois profetas de Apocalipse 11 e dos 144 mil judeus selados para servirem a Deus no período da Tribulação.
Então, por quê alguns ainda insistem em supor que ninguém se salvará durante a Tribulação? A resposta talvez se divida em dois pontos principais: Primeiro, por causa de uma concepção equivocada que após o arrebatamento não haverá uma “segunda chance”, como dizem alguns. Em segundo lugar, talvez, por causa de uma má interpretação da parábola das dez virgens, que, por alguma razão, muitos associam com o arrebatamento, e, através desta interpretação da parábola, concluem que “após o arrebatamento as portas da graça serão fechadas”.
SEGUNDA CHANCE?
Bom, em primeiro lugar, biblicamente falando, não existe a ideia de “segunda chance” após o Arrebatamento. Na verdade, o arrebatamento não é sinônimo de salvação e não é considerado pela Bíblia como “a primeira e última chance” de alguém ser salvo. Muitos viveram e morreram no período da Velha Aliança e foram salvos. Muitos crentes viveram e morreram já no período da Nova Aliança, e, mesmo sem terem tido a oportunidade de serem arrebatados em vida, ainda assim, todos foram salvos. A explicação da doutrina do Arrebatamento foi concedida por Deus a Paulo como uma revelação especial para que este ensinasse sobre o fato de que haverá toda uma geração que não verá a morte, e, que, todos os crentes vivos, naquele dia, serão tirados da terra, pois, logo em seguida, se iniciará o pior tempo de toda a história humana. O Arrebatamento não irá “salvar” as pessoas, apenas levará aqueles que já forem salvos. O tempo propício para o arrependimento para se fazer as pazes com Deus é todo e qualquer tempo que possa ser chamado de “hoje”. Em outras palavras, aos homens está ordenado viverem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo (Hb 9.27). Enquanto o homem estiver vivo, sua sentença eterna ainda não é definitiva, e, por isso, ele ainda tem a chance de se arrepender e ser salvo. Seja antes, seja depois do arrebatamento, qualquer homem que se arrepende e reconhece a Jesus como Senhor, será salvo. Depois do Arrebatamento, durante a Tribulação, os homens não terão uma “segunda chance” para serem salvos; na verdade, eles ainda terão a mesma chance de antes, pois, enquanto estiverem vivos, poderão se arrepender e fazer as pazes com Deus.
AS DEZ VIRGENS E O ARREBATAMENTO
Essa ideia, que associa o arrebatamento da Igreja com uma suposta “última chance” para a salvação, é muito difundida entre os evangélicos, e se encontra no imaginário popular de grande parte da Igreja. Alguns entenderam que certas frases extraídas da parábola das dez virgens, que trazem a ideia de “fim da oportunidade”, estariam falando da impossibilidade de alguém ser salvo depois que o arrebatamento acontecesse.
É possível que uma das razões para esta confusão tenha surgido pelo fato da história contada por Jesus, na parábola, conter a ideia de um casamento. E, como em alguns textos das epístolas, a Igreja é considerada como Noiva de Cristo, alguns parecem ter concluído que a mensagem central da parábola só poderia estar se referindo à união de Cristo e a Igreja por ocasião do arrebatamento. Porém, se fosse sobre isso que a parábola estivesse falando, a conclusão deveria ser que Jesus estaria falando sobre um “arrebatamento parcial”, que deixaria para trás todos os discípulos que embora também estivessem interessados no mesmo encontro com o noivo, não estariam suficientemente preparados no sentido espiritual, condição representada ali pela “falta de azeite”. Além disso, alguns afirmam que nem mesmo durante a Tribulação esses cristãos despreparados “para o arrebatamento” poderiam ser salvos, pois teriam “perdido a chance”. Outros, que também acreditam que a parábola esteja se referindo ao arrebatamento, colocam suas bases para essa interpretação no fato de Jesus ter falado sobre vigilância e prontidão, pressupondo, com isso, que Jesus não poderia estar falando sobre qualquer outra coisa senão sobre a “iminência relacionada ao arrebatamento”. Por fim, no encerramento da história, em Mateus 25.11, 12, Jesus acrescentou que, “mais tarde, chegaram as virgens néscias, clamando: Senhor, senhor, abre-nos a porta! Mas ele respondeu: Em verdade vos digo que não vos conheço”. Assim, a conclusão a que chegaram alguns é que Jesus estaria ensinando que “após este arrebatamento parcial da Igreja, onde nem todo cristão irá subir, as portas da graça serão fechadas e ninguém mais poderá ser salvo”.
MAIS UMA PARÁBOLA SOBRE A VINDA DO REINO
Que haverá salvação durante o período tribulacional, já tratamos na primeira parte deste texto. Agora, vamos falar um pouco sobre a parábola das dez virgens.
O versículo acima é aquilo que poderíamos chamar de “cabeçalho da história” que passará a ser contada por Jesus. Durante a exposição dos acontecimentos fictícios da parábola, Jesus descreverá alguns detalhes do que acontecerá desde o momento da saída das moças até o ponto final da jornada. Porém, o sentido primário da história já fora claramente definido: “A implantação do reino dos céus”. Não há a menor necessidade de especulação a respeito de qual era o objetivo de Jesus ao contar essa história, pois, ele mesmo, já afirmou: “A parábola trata sobre a futura implantação do reino de Deus”, ponto!
As bodas representam a implantação do reino, assim como o noivo da história representa o rei que virá. As virgens não são as noivas com quem o noivo da história se casará, elas são amigas da noiva ou do noivo, mas a noiva, de acordo com as características do casamento judaico, embora omitida na história, é sempre uma só e nunca duas ou mais. A despeito de quem a noiva possa vir a representar nesse contexto, ela simplesmente não aparece na história. A parábola em questão trata sobre acontecimentos relacionados aos “amigos dos noivos”, aqueles que haviam sido convidados para as bodas.
Eu não duvidaria da capacidade de um bom mestre em argumentar sobre o porquê ele acredita que a ideia do arrebatamento estaria vinculada à introdução feita por Jesus quando disse que falaria sobre “o reino de Deus”. Porém, a despeito da capacidade argumentativa do professor, tenho dúvidas que haverá base bíblica suficiente para sustentar que o conceito bíblico de “vinda do reino de Deus” esteja diretamente relacionado ao arrebatamento em si. Parece-me muito mais natural a compreensão de que Jesus estava mesmo falando sobre o futuro reino de Deus que será estabelecido na terra, após a Tribulação, quando, finalmente, o Senhor se manifestar em glória.
Embora existam muitos elementos interessantes na parábola das dez virgens, o foco principal da história contada por Cristo parece ser a importância da preparação e da perseverança dos homens, até alcançarem o reino. Por associação, as dificuldades, a escuridão, a falta de azeite, a demora e o sono, que aparecem na história, devem representar algumas das dificuldades pertinentes ao período tribulacional, que é o período imediatamente anterior à implantação do reino dos céus mencionado na parábola.
Há pelo menos dois aspectos do reino de Deus com os quais precisamos estar familiarizados: o aspecto espiritual, invisível, no qual estamos hoje e o aspecto literal e visível que se manifestará durante o milênio descrito em Apocalipse 20. Todo aquele que confessa a Cristo e nasce de novo, entra no reino de Deus agora. Paulo afirmou que “Deus nos transportou do império das trevas para o reino…” (Cl 1.13). Se o reino ainda não estivesse disponível, de forma alguma, esse versículo seria um grande problema. Afinal, para onde teriam sido “transportados” os crentes se o reino já não estivesse disponível? Paulo também explicou que atualmente “o reino de Deus não é comida, nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (Rm 14.17). Por enquanto, como disse Jesus, o reino de Deus está dentro de nós, mas, um dia, estará de uma a outra extremidade da terra e sobre todos os povos.
“Reino dos céus” ou “reino de Deus” são termos usados nos Evangelhos de forma intercambiável, e fazem referência, de forma geral, a este reino, seja em seu aspecto espiritual, seja em seu aspecto futuro e literal do período de glória do povo hebreu, quando, finalmente, um judeu governará o mundo por mil anos. Pelas características da história contada por Jesus na parábola, tudo indica que ele se referia ao aspecto futuro do reino de Deus e não ao início da Nova Aliança, que traria consigo os aspectos espirituais e invisíveis do reino de Deus. Na parábola, todas as virgens enfrentam os mesmos desafios da jornada até o local da festa de casamento, mas, depois de tudo, somente as que estavam preparadas conseguiram ir além e alcançar o objetivo. A própria divisão final entre “quem entra” e “quem fica de fora”, muito se assemelha a outros textos que mencionam essa derradeira separação antes do Milênio entre “bons” e “maus”, entre “justos” e “injustos”, entre “prudentes” e “néscios”.
Assim, por analogia, a jornada das amigas da noiva (ou do noivo) até entrarem no local da festa de casamento, corresponde à preparação e perseverança dos homens que aguardam pela futura implantação do reino de Deus na terra. A mensagem central da parábola trata sobre a importância de “estar preparado”. Assim como o construtor da parábola de Lucas 14:28-33 deveria calcular tudo antes de começar, e o rei, do mesmo texto, deveria analisar tudo antes de entrar em guerra, da mesma forma, as que serão chamadas de “virgens prudentes” nesta parábola, são aquelas que se prepararam antecipadamente para a jornada. É inadmissível pensar em se preparar para os desafios e necessidades de uma viagem depois que ela já começou!
A demora do noivo, mencionada por Cristo na história (Mt 25.5), deve ser uma alusão ao sentimento dos homens que estarão aguardando ansiosamente o momento em que o Messias, finalmente, virá para iniciar o seu reinado neste mundo. A demora mencionada por Cristo na parábola pode ser uma referência ao tempo entre sua primeira e segunda vinda, ou, uma referência ao sentimento dos que ficarem na terra do arrebatamento até sua aparição final.
O foco da história não está necessariamente no casamento entre “o noivo e a noiva”, mas no preparo e na jornada das amigas até o local da festa. As virgens, prudentes ou néscias, não parecem representar a Igreja, mas os piedosos entre judeus e gentios que almejarem pelo reino de Deus. Contudo, como a história demonstra, nem todos estarão preparados para enfrentar as dificuldades do período de espera durante a escuridão que virá, apenas os que estiverem suficientemente preparados alcançarão o objetivo.
AS IMPRUDENTES TAMBÉM CONCLUEM A JORNADA
Outro ponto curioso da parábola, que vale a pena ser mencionado, é que Jesus afirma que as virgens imprudentes, depois de alguns contratempos, também chegam ao mesmo lugar das amigas que estavam previamente preparadas. A narrativa parece querer demonstrar que elas se conscientizaram do problema tarde demais, e, que, embora tenham finalmente comprado azeite e conseguido chegar até o mesmo lugar onde as outras já estavam, elas não iriam entrar, pois, por sua displicência, elas “mereciam ficar do lado de fora”.
A rejeição das imprudentes, nesse ponto da história, parece representar uma condição da realidade espiritual humana que é simplesmente irreversível. Se o fato de as imprudentes terem finalmente conseguido comprar azeite extra e terem chegado ao lugar da festa, representar algum tipo de “conscientização”, isto terá que significar uma “conscientização tardia”, em momento inoportuno, sem qualquer chance de solução para seus problemas. Em outras palavras, se a conscientização das imprudentes representasse um possível arrependimento durante a Tribulação, não faria sentido as virgens imprudentes representarem pessoas sendo banidas do reino. Pois, como vimos em outros textos, muitos judeus e gentios, arrependidos, serão finalmente salvos durante o período tribulacional e certamente entrarão no reino por vir. O ponto da história que conta sobre as imprudentes sendo barradas de entrar no local da festa, deve representar um momento final de definição irreversível para os que serão rejeitados. Parece-me que só existem duas possíveis alternativas:
Primeiro, Jesus poderia estar se referindo à rejeição dos ímpios no julgamento das nações, depois de toda a Tribulação, quando ele virá em glória para implantar o reino de Deus e concederá o reino a uns, mas rejeitará a outros. Um pouco depois de ter contado a parábola das dez virgens, ainda em Mateus 25, Jesus disse que, “quando o filho do homem vier na sua majestade, ele se assentará no trono da sua glória e todas as nações serão reunidas em sua presença, e ele separará uns dos outros” (Mt 25.31,32). Nesta ocasião Jesus fará uma separação entre os que ele chama de “benditos” e “malditos”. A uns ele dirá: “Vinde, benditos de meu Pai! Tomem posse do reino” (Mt 25.34). Aos outros, ele dirá: “Apartai-vos de mim, malditos” (Mt 25.41).
Segundo, Jesus poderia estar se referindo ao juízo que os homens enfrentarão após a morte, por meio do qual será finalmente selado o seu destino. Caso esta opção seja a correta, isso poderia significar que o sono das virgens na parábola representava a morte, e, como somente as virgens prudentes estariam preparadas para entrar no local da festa depois que acordassem, isso também poderia representar a futura ressurreição dos justos para usufruírem do reino milenar, ao passo que as outras, posteriormente rejeitadas, representariam os ímpios banidos do reino e destinados à perdição.
O fato é que, como o assunto da parábola está relacionado à implantação do reino e não ao arrebatamento, a noção do futuro estabelecimento do reino de Deus, depois da Tribulação, deve ser levado em conta.
COMO UM LADRÃO NA NOITE
Alguns colegas argumentam que pelo fato de Jesus ter concluído a parábola com um alerta sobre vigilância, isso deveria ser levado em consideração como um indicativo para o arrebatamento e não para o período tribulacional, mesmo que a tribulação seja o tempo que, de fato, precederá a vinda do reino de Deus, que, segundo Jesus, seria o assunto sobre o qual a parábola iria tratar.
É muito comum que alguns de nós associemos o arrebatamento a um acontecimento súbito e sem avisos, e acredito que não há nada de errado com isso. Porém, o outro lado da moeda é que, o início da Tribulação, também parece ser repentino e sem qualquer outro acontecimento prévio, a não ser o próprio arrebatamento em si. Desta forma, o Arrebatamento e o início da Tribulação parecem estar relativamente próximos um do outro, a ponto de tudo que possa ser dito sobre a iminência do arrebatamento, também possa ser atribuído à imprevisibilidade do início da tribulação. Costumo brincar dizendo que o arrebatamento e o início da tribulação estão ligados mais ou menos como uma casa conjugada a outra, parede com parede. Obviamente que depois que a Tribulação já houver começado, as pessoas saberão previamente o que estará por vir, mas quanto ao dia do início do período tribulacional, ninguém sabe exatamente quando será.
Em Mateus 24 Jesus descreveu diversos aspectos do período tribulacional, e, em determinado momento, afirmou: “quando virdes todas estas coisas, sabei que está próximo, às portas” (Mt 24.33). Ao dizer neste momento que “estaria próximo, às portas”, é óbvio que Jesus não estava se referindo à própria tribulação sobre a qual estava falando. Isso não teria o menor sentido. O que Jesus estava dizendo era: “quando virdes todas estas coisas DA TRIBULAÇÃO, vocês saberão que estará próximo”. Jesus estava falando especificamente sobre a proximidade da “implantação do reino de Deus na terra”. O texto de Lucas deixa isso mais claro: “Ainda lhes propôs uma parábola, dizendo: Vede a figueira e todas as árvores. Quando começam a brotar, vendo-o, sabeis, por vós mesmos, que o verão está próximo. Assim também, quando virdes acontecerem estas coisas, sabei que está próximo o reino de Deus” (Lucas 21.29-31). Trocando em miúdos, Jesus estava simplesmente dizendo que “quando as coisas da tribulação, que ele havia descrito, começassem, as pessoas poderiam ter certeza de que num curto espaço de tempo, o reino de Deus seria estabelecido no mundo”. Jesus afirmou que, assim como os homens sabem que o verão se aproxima pelo início do brotamento das árvores, da mesma forma, quando as coisas da tribulação começarem a acontecer, poderão estar certos de que o estabelecimento do reino de Deus estará próximo. O único ponto de interrogação nessa comparação é: Quando inicia o brotamento das árvores? Ninguém sabe! O que os homens sabem é que depois que começa, não demora muito. Da mesma forma, por analogia, cabe a pergunta: Quando a Tribulação terá início? Quando exatamente começarão os aspectos punitivos daquilo que a Bíblia chama de o Dia do Senhor? A resposta de Jesus a esta indagação também foi dada:36 Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão o Pai. 37 Pois assim como foi nos dias de Noé, também será a vinda do Filho do Homem. 38 Porquanto, assim como nos dias anteriores ao dilúvio comiam e bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, 39 e não o perceberam, senão quando veio o dilúvio e os levou a todos, assim será também a vinda do Filho do Homem. 40 Então, dois estarão no campo, um será tomado, e deixado o outro; 41 duas estarão trabalhando num moinho, uma será tomada, e deixada a outra. 42 Portanto, vigiai, porque não sabeis em que dia vem o vosso Senhor (Mateus 24.36-42).
Em outras palavras, o dia do início das coisas que acontecerão durante o período tribulacional, ninguém sabe qual será. A única coisa que se pode saber é que, quando tais coisas começarem a acontecer, o reino de Deus virá num curto espaço de tempo, pois estará muito próximo, às portas.
No texto acima, Jesus estava basicamente ensinando que o início da tribulação será logo em seguida ao momento em que os justos serão arrebatados. Assim como Noé e Ló foram tirados do caminho para que viesse o juízo (Lc 17.26-20), da mesma forma os justos serão arrebatados e na sequência virá a tribulação. O que quer dizer que O INÍCIO da tribulação será tão inesperado para os pecadores quanto será o arrebatamento para os salvos. Não há data marcada, nem dia certo para ambos os grupos. Da mesma forma que Ló foi retirado subitamente de Sodoma, os pecadores contemporâneos de Noé foram surpreendidos pelo dilúvio que destruiu a todos. Por esta razão, alguns textos das Escrituras se referem à experiência da tribulação, para os pecadores, como a vinda inesperada de um ladrão no meio da noite. Súbita e desagradável.2 Vós mesmos estais inteirados com precisão de que o Dia do Senhor vem como ladrão de noite. 3 Quando andarem dizendo: Paz e segurança, eis que lhes sobrevirá repentina destruição, como vêm as dores de parto à que está para dar à luz; e de nenhum modo escaparão. 4 Mas vós, irmãos, não estais em trevas, para que esse Dia como ladrão vos apanhe de surpresa… (1Tessalonicenses 5.2-4).
O início dos aspectos punitivos do Dia do Senhor, que também conhecemos como tribulação, causará uma surpresa desagradável aos homens que permanecerão no mundo após o arrebatamento. Neste sentido, se a parábola das dez virgens estiver de fato falando sobre a busca pelo reino durante o período tribulacional até o seu estabelecimento, cabe o alerta no final da parábola para quem estará na terra. A parábola parece estar falando sobre o que acontecerá logo depois que o arrebatamento houver acontecido.
CONCLUSÃO
Acredito que seja mais provável que a parábola das dez virgens se refira ao período tribulacional, que precederá a implantação do reino de Deus na terra. Assim, os elementos da história, talvez, tenham as seguintes correspondências: o noivo, representaria Cristo em sua vinda gloriosa. As donzelas, amigas do noivo (ou da noiva), representariam aqueles que estarão aguardando a manifestação final de Cristo para implantar seu reino no mundo. O reino mencionado na parábola não é uma referência à vida com Deus, no céu, depois do arrebatamento, mas uma alusão ao reino do Messias na terra, depois que ele vier. O azeite extra seria a preparação necessária para enfrentar as trevas do período tribulacional e a garantia de que mesmo depois de um período de sono ainda teriam condições de alcançar o objetivo. O sono das virgens talvez represente um momento de fadiga durante a espera, ou, quem sabe, a morte que alguns inevitavelmente experimentarão durante a Tribulação.
Na parábola, apenas as que haviam sido prudentes tiveram condições de alcançar o objetivo de encontrar o noivo e participar das festividades. As imprudentes, ficarão de fora. Parece-me que isso seja um indicativo de quem entrará e quem não entrará no reino que se seguirá depois de todo o período tribulacional.
Alguns dos pontos que discutimos nesse texto são:
- A parábola fala do futuro estabelecimento do reino de Deus, que não tem ligação conceitual com o Arrebatamento.
- O casamento mencionado na parábola representa a futura vinda do reino, e, consequentemente, a vinda do rei.
- O noivo da história representa Jesus em sua manifestação gloriosa, quando vier para implantar o reino.
- As virgens não são noivas do noivo, mas amigas da noiva ou do noivo. Representam pessoas convidadas para as festividades das bodas.
- Uma possível demora para o encontro com o noivo já é prevista. Isto talvez se refira ao tempo que transcorrerá desde o arrebatamento até à vinda de Cristo para implantar o reino.
- Quem partir na jornada com o objetivo de chegar até o local da festa, deverá estar preparado para manter sua luz acessa no caminho escuro pelo qual terá que passar, até alcançar o destino.
- Já que prudentes e imprudentes dormiram, isto estabelece o fato de que o sono na parábola não representa um aspecto essencialmente negativo ou reprovável.
- ● O sono pode representar a fadiga durante a espera da manifestação do reino ou pode representar a morte. Porém, somente as prudentes, que estavam preparadas antes do descanso, serão capazes de alcançar o objetivo depois que acordarem. Todas dormiram, mas só quem se preparou antes de dormir usufruirá da festa.
Resumindo, todos os que ficarem na terra após o arrebatamento serão surpreendidos com o início da tribulação. Porém, somente aqueles que devidamente atravessarem aquele período de escuridão, sairão do outro lado com a grande recompensa de participar do reino de Deus.