A Tribulação, a Perturbação e o Arrebatamento
PERGUNTA:
Qual a sua resposta sobre o que diz na Bíblia que “estas coisas” não acontecerão sem que primeiro aconteça a apostasia?
RESPOSTA:
Acredito que você deve estar fazendo referência a II Tessalonicenses 2.1–3, que diz:
“¹Irmãos, no que diz respeito à vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e à nossa reunião com ele, nós vos exortamos ²a que não vos demovais da vossa mente, com facilidade, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola, como se procedesse de nós, supondo tenha chegado o Dia do Senhor. ³Ninguém, de nenhum modo, vos engane, porque isto não acontecerá sem que primeiro venha a apostasia e seja revelado o homem da iniquidade, o filho da perdição”.
Se for a respeito desta passagem que você estava pensando, observe que Paulo está falando sobre algo que estava trazendo perturbação aos irmãos em Tessalônica no que dizia respeito ao tema da volta de Cristo e do momento da nossa reunião com ele. A primeira coisa que ele pede é que os irmãos “não mudem a forma de pensar” tão facilmente. Isto é uma referência ao que ele mesmo havia ensinado presencialmente e também na primeira epístola. Na primeira epístola, no capítulo 4, Paulo disse: “nós, os crentes, seremos arrebatados” (1Ts 4.17) e no capítulo 5, ele disse: “eles, os ímpios, de nenhum modo escaparão” (1Ts 5.3). No capítulo 4 Paulo se incluiu no Arrebatamento, no caítulo 5 Paulo se excluiu da Tribulação. Na primeira epístola, Paulo havia ensinado um Arrebatamento Pré-Tribulacional. Porém, por causa da perseguição enfretada pelos tessalonicenses, alguns irmãos começaram a dizer que o “Dia do Senhor” havia chegado. É por isso que Paulo os corrige, dizendo: “ISTO (o dia do Senhor) não acontecerá, sem que primeiro…”
Saiba que “Dia do Senhor”, “Dia de Cristo”, “Dia de Deus”, “o Dia”, “o Grande Dia” e oturas variações da mesma expressão, falam principalmente a respeito do tempo da intervenção de Deus na terra, quando finalmente punirá os pecadores do mundo expressando sua ira por meio do Anticristo, de Satanás, das catástrofes da natureza e de grande cataclisma. No texto do nosso estudo, Paulo está lembrando aos tessalonicenses o que havia ensinado na primeira epístola e dizendo que eles não deveriam abandonar o que tinham aprendido dele, ou seja, que a Tribulação, também chamada de “o Dia do Senhor”, não aconteceria antes do Arrebatamento.
Algumas pessoas se confundem pensando que a expressão “Dia de Cristo” ou “Dia do Senhor” estivesse sendo usado ali como uma referência ao próprio arrebatamento, ou mesmo à manifestação final de Cristo depois de toda a Tribulação. No entanto, isso não faria sentido na abordagem que Paulo está fazendo, pois como o Arrebatamento ou a manifestação final de Cristo depois da Tribulação poderia trazer perturbação? Lembre-se do que disse Paulo no versículo dois: “Ninguém vos perturbe com a suposição de que tenha chegado o Dia do Senhor”. Ora, se o Dia do Senhor, nesse contexto específico, significasse a manifestação final de Cristo, depois da Tribulação, não haveria motivos para “perturbação”, afinal, isso signfiicaria que “o pior já passou”. Se o “Dia do Senhor”, nesse contexto, significasse o “arrebatamento”, também não faria sentido que “por supor que este momento tivesse chegado” isso pudesse trazer perturbação, afinal, a chegada do momento do arrebatamento é de causar alegria ao coração de qualquer crente. Porém, para se ter um pequeno vislumbre do que as Escrituras ensinam sobre os pavores daquele Dia, que será um tempo no qual haverá angústia como nunca houve, nem jamais haverá, observe os versículos abaixo:
Amós 5.18–20
¹⁸ Ai de vós que desejais o DIA DO SENHOR! Para que desejais vós o DIA DO SENHOR? É dia de trevas e não de luz. ¹⁹ Como se um homem fugisse de diante do leão, e se encontrasse com ele o urso; ou como se, entrando em casa, encostando a mão à parede, fosse mordido de uma cobra. ²⁰ Não será, pois, o DIA DO SENHOR trevas e não luz? Não será completa escuridão, sem nenhuma claridade?
O texto acima nos mostra que o Dia do Senhor será um tempo de perigos constantes para todos os lados. Sem luz, de completa escuridão, sem qualquer claridade.
Joel 2.1,2,11,31
¹ Tocai a trombeta em Sião e dai voz de rebate no meu santo monte; PERTURBEM-SE todos os moradores da terra, porque o DIA DO SENHOR vem, já está próximo; ² dia de escuridade e densas trevas, dia de nuvens e negridão! Como a alva por sobre os montes, assim se difunde um povo grande e poderoso, qual desde o tempo antigo nunca houve, nem depois dele haverá pelos anos adiante, de geração em geração. ¹¹ O Senhor levanta a voz diante do seu exército; porque muitíssimo grande é o seu arraial; porque é poderoso quem executa as suas ordens; sim, grande é o DIA DO SENHOR e mui terrível! Quem o poderá suportar? ³¹ O sol se converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes que venha o grande e terrível DIA DO SENHOR.
Então, faz sentido que os moradores da terra se perturbem quando o Dia do Senhor estiver finalmente para acontecer. Afinal, não será um dia comum como todos os outros, nem sequer de paz e tranquilidade, mas um dia muito terrível, que poucos, talvez, poderão suportar.
Isaías 13.6–13
⁶ Uivai, porque O DIA DO SENHOR está perto; virá do Todo-Poderoso como assolação. ⁷ Pelo que todas as mãos se debilitarão, e se derreterá o coração de todos os homens. ⁸ E ficarão desanimados; e deles se apoderarão dores e ais; e se angustiarão, como a mulher que está de parto; olharão atónitos uns para os outros; os seus rostos serão rostos flamejantes. ⁹ Eis que O DIA DO SENHOR vem, horrendo, com furor e ira ardente; para pôr a terra em assolação e para destruir do meio dela os seus pecadores. ¹⁰ Pois as estrelas do céu e as suas constelações não deixarão brilhar a sua luz; o sol se escurecerá ao nascer, e a lua não fará resplandecer a sua luz. ¹¹ E visitarei sobre o mundo a sua maldade, e sobre os ímpios a sua iniquidade; e farei cessar a arrogância dos atrevidos, e abaterei a soberba dos cruéis. ¹² Farei que os homens sejam mais raros do que o ouro puro, sim mais raros do que o ouro fino de Ofir. ¹³ Pelo que farei estremecer o céu, e a terra se movera do seu lugar, por causa do furor do Senhor dos exércitos, e por causa DO DIA DA SUA ARDENTE IRA.
Uau! Assustador, não é mesmo? Agora, talvez, fique mais fácil compreender o porquê da ideia que o “Dia do Senhor” estava começando, trazia perturbação ao coração dos irmãos de Tessalônica. Paulo disse: “Não vos demovais da vossa mente, com facilidade, nem vos perturbeis supondo tenha chegado o Dia do Senhor” (IITs 2.2).
As tribulações e problemas da vida, são coisas normais que um cristão pode experimentar. Afinal de contas, viver neste mundo onde Satanás é deus, é ter que nadar contra a maré; por isso, todo que quiser viver piedosamente em Cristo Jesus, sofrerá perseguições. Porém, na carta de Paulo, objeto do nosso estudo, ele não estava se referindo a esse tipo de aflição. No entanto, alguns irmãos de Tessalônica, por estarem debaixo de grande perseguição e sofrimento, começaram a supor que a Tribulação só podia ter começado. Paulo então lhes escreve para corrigir os equivocos.
Os problemas da vida e as perseguições não deveriam deixar um cristão alarmado, esse tipo de coisa é normal de acontecer. É de se esperar enquanto estivermos vivendo a realidade atual deste mundo. Agora, a Tribulação Escatológica, como Paulo havia ensinado na primeria epístola, só acontecerá depois da retirada do Corpo de Cristo, ou seja, ἡ ἀποστασία (a apostasia). A palavra grega ἀποστασία quando traduzida para o português pode significar “afastamento, retirada, rebelião, partida, separação, distância, desaparecimento”. Somente o contexto indicará qual o sentido pretendido ao se ter usado a palavra. O problema é que em nosso idioma e em nossa cultura a palavra ganhou implicações de “desvio da fé” e isso tem confundido as pessoaa que leem esse texto. Alguns, inclusive, chegaram até mesmo a dizer que Paulo estaria se referindo “à grande apostasia que o Anticristo iria promover no mundo depois da sua aparição”. O que não consigo entender é como chegaram a essa conclusão, uma vez que o texto diz exatamente o contrário! Paulo disse que “a Tribulação não começaria sem que primeiro acontecesse a apostasia e somente depois fosse revelado o homem da iniquidade” (II Ts 2.3). Segundo Paulo, não será o Anticristo que causará “a apostasia”, mas somente depois “da apostasia”, que ele finalmente poderá ser revelado. Se apostasia, nesse texto, fosse um “grande afastamento de Deus” ou “uma rebelião universal contra as coisas sagradas”, como algumas pessoas gostam de supor, os versículos seguintes perderiam todo o sentido, pois, logo em seguida, Paulo vai repetir a mesma declaração com palavras levemente diferentes:
II Tessalonicenses 2.6–8
⁶ E, agora, sabeis o que o DETÉM, para que ele seja revelado somente em ocasião própria. ⁷ Com efeito, o mistério da iniquidade já opera e aguarda somente que seja afastado aquele que agora o DETÉM; ⁸ então, será, de fato, revelado o iníquo…
Se, e somente se, a palavra “apostasia”, nesse contexto, estivesse sendo usada no sentido de “grande devassidão moral”, isso significaria que Paulo estaria dizendo que a AUSÊNCIA desta condição, naquela época, impediria a manifestação do Anticristo. Porém, o contexto indica que Paulo estava se referindo a alguma coisa que estava presente e precisava ser RETIRADA. Paulo não estava falando sobre algo que precisava CHEGAR, mas sobre algo que precisava SAIR. Tal presença detinha (e ainda detém) a possível manifestação do Anticristo.
No texto grego, a forma verbal da palavra parece em 1Timóteo 4.1 quando Paulo falava sobre o futuro “afastamento da fé”. Veja que ele precisou especificar de que tipo de afastamento ele estava falando, ou seja, um afastamento “da fé”. A razão disso é que a palavra apostasia, tanto na forma verbal, quanto nominal, não significava automaticamente “desvio doutrinário” ou “esfriamento espiritual”, o sentido pretendido vai depender exclusivamente do contexto no qual ela aparece. A palavra é usada em diversos lugares no Novo Testamento para se referir ao “afastamento do templo” (Lc 2.37), o “afastamento de Satanás” (Lc 4.13), “desvio doutrinário” (Lc 8.13), etc. Em Mteus 19.7, por exemplo, a palavra ἀποστασίου (apostasion), um cognato da palavra apostasia, aparece quando se falava sobre “carta de divórcio”. A palavra “divórcio” em nossas Bíblias, corresponde à palavra grega “apostasion”, que aparece no versículo em questão como substantivo neutro. Se você tiver interesse em se aprofundar no assunto, te aconselho a dar uma olhadinha no capítulo 10 do meu livro Arrebatamento Antes da Tribulação.