As tribos “perdidas” de Israel e os 144 mil
Por causa da dificuldade na interpretação de algumas passagens bíblicas, alguns irmãos optam por uma solução mais “prática”, que resolva de uma vez por todas aquelas questões que parecem eternamente suspensas, e que, assim, por meio de tais conclusões, isso traga algum tipo de alívio para a ansiedade que sentem em relação àquela questão em particular. Um dos assuntos, que parece gerar certa especulação, diz respeito à identidade dos 144 mil judeus celibatários mencionados no livro de Apocalipse.
Há quem goste de citar a dispersão do povo hebreu pelo mundo como uma das justificavas para que a interpretação dos 144 mil seja feita de forma alegórica. Basicamente, alguns concluem que se o povo se dispersou e se “diluiu” em meio às nações da terra, aqueles antigos judeus teriam perdido sua identidade e hoje já não seriam mais o que foram considerados antigamente, nas Escrituras. Há pessoas, inclusive, que, seguindo essa mesma linha de raciocínio, chegam ao extremo de afirmar que os atuais gentios são os antigos judeus das “tribos perdidas de Israel”. Sabemos, de fato, que os judeus foram dispersos em diversas ocasiões ao longo da história, porém, parece que o ataque do antigo império Assírio às tribos de Israel, acabou servindo de fundamentação para esse tipo de argumento de que “as tribos de Israel se dissiparam pelo mundo e foram perdidas para sempre”.
Eu, porém, não acredito que seja muito correto ficar tentando reinterpretar a Bíblia à luz dos acontecimentos gerais da história. Claro que a história confirma profecias e verdades que foram reveladas por Deus muito antes que eles estivessem para acontecer, mas, uma coisa é perceber a confirmação das Escrituras na História, e, outra, totalmente diferente, seria se pautar pela história para reinterpretar o texto bíblico.
Acredito que a declaração de Apocalipse sobre os 144 mil é literal e não figurativa. Nesta perspectiva, acredito que aqueles homens deverão mesmo ser separados na ocasião para a tarefa que vai ser confiada a eles. O texto não está falando sobre uma suposta salvação de apenas 144 mil hebreus, mas está falando sobre estes 144 mil serem selados ou “ungidos” para alguma missão específica no período tribulacional. Muitos acreditam que a missão deles seja revelada no capítulo 7, onde são citados pela primeira vez. Isso porque, após a sua separação, o texto revela que multidões de todas as outras nações da terra serão salvas. O texto declara que “fora posto um selo sobre 144 mil servos, e, depois destas coisas, João viu uma grande multidão, de todas nações da terra, com vestes brancas, e glorificando a Deus pela salvação” (Apocalipse 7.3,4,9,10). Por causa disso alguns os chamam de “judeus evangelistas”.
O fato é que o capítulo 7 de Apocalipse fala de um número limitado de 144 mil descendentes de Abraão, Isaque e Jacó, e, em seguida, de uma multidão incontável de pessoas das outras nações da terra. Isto, por si só, já demonstra a distinção entre os judeus e os gentios, nesta profecia. O que também é uma clara evidência de que o período tribulacional será um tempo diferente do período da Igreja de Cristo, que vivemos agora, pois, na era da Igreja, tais distinções seriam inconcebíveis.
Diz-se que o atual estado de Israel é basicamente formado por pessoas oriundas das tribos de Judá, Benjamim e Levi. Embora não saibamos todos os detalhes relacionados à preservação das histórias das tribos, sabemos que o registro e o paradeiro de algumas delas são conhecidas pelos próprios judeus. Algumas matérias jornalísticas têm sido publicadas falando de algumas destas tribos que foram “encontradas” ou reconhecidas, ou que parte delas tem retornado à terra de Israel. Eu, particularmente, não tenho acompanhado esse assunto de perto e neste momento não saberia tratar com propriedade sobre o caso. Ainda assim, acredito que, em algum momento, todas as tribos serão oficialmente reconhecidas. No entanto, entendo que a futura separação daqueles homens do texto de Apocalipse, tirados das 12 tribos de Israel, não será uma realização humana, feita pelos próprios judeus ou por outros homens, e sim, pelo próprio Deus. Ele sabe de tudo, inclusive aquilo que pode parecer muito confuso ou complicado para a percepção humana.
Além disso, parece-me que esta ideia de que “as tribos teriam sumido ou deixado de existir”, baseia-se em textos mal interpretados das histórias do Antigo Testamento, e também da falta de atenção a textos relacionados ao assunto, que aparecem no Novo Testamento. As Escrituras, como um todo, não se referem às tribos de Israel como “perdidas”. Ao contrário disso, as tribos são citadas, consideradas presentes e muito bem conhecidas.
Dave Hunt, em seu livro “O Dia do Juízo: O Islã, Israel e as Nações” (CUPOM: RUFINO2021), faz um breve comentário sobre esse assunto com grande maestria. Ele comenta o fato de que o texto de 2Reis 17.17-23 declara que o povo das 10 tribos de Israel foi levado cativo para a Assíria por volta do ano 740a.C. Porém, muitos, se não a maioria, dos que foram levados cativos, voltaram para a terra de Israel. A Bíblia cita especificamente “uma multidão do povo, muitos de Efraim, de Manassés, de Issacar e de Zebulom” que “escapou do poder dos reis da Assíria” e celebrou a Páscoa em Jerusalém nos dias de Ezequias, mais de uma década depois de terem sido levados para a Assíria (2Crônicas 30.6,18).
Também está escrito na Bíblia que, cerca de noventa anos depois, Israel se juntou a Judá para celebrar a Páscoa durante o grande avivamento do reinado de Josias. Nesta ocasião, o texto bíblico menciona a presença de sete das “dez tribos perdidas”, e a implicação é que todas estavam lá, inclusive as tribos não citadas pelo nome (2Crônicas 34 e 35). Quase duzentos anos depois que as dez tribos foram levadas para a Assíria, Deus deu a Ezequiel uma visão da futura restauração de Israel e referiu-se à divisão da Terra Prometida “segundo as doze tribos de Israel” (Ezequiel 47.13).
Ainda na construção do seu argumento, Hunt continua: “Se essas dez tribos tivessem se perdido, a promessa que Cristo fez a seus discípulos, jamais poderia se cumprir: ‘Quando na regeneração, o Filho do Homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentareis em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel’ (Mateus 19.28). Paulo, em pleno Novo Testamento, não achava que alguma tribo houvesse se perdido. Em seu apelo ao rei Agripa, ele se refere às ‘doze tribos’ de uma forma que mostra que elas existiam em seu tempo (Atos 26.7). Tiago endereçou sua epístola ‘às doze tribos que se encontram na Dispersão’ (Tiago 1.1)”.
Por fim, sabemos que, atualmente, descendentes de judeus estão espalhados por todos os lugares da terra, mas isso não faz com que as doze tribos tenham sido aniquiladas ou que jamais serão oficialmente reconhecidas outra vez. De fato, chegará o dia em que 144 mil homens, 12 mil de cada uma das doze tribos de Israel, serão separados por Deus para uma obra poderosa nesta terra durante o período tribulacional, como descrito no livro de Apocalipse.