Haverá Salvação Após o Arrebatamento?
O Arrebatamento e a Situação dos que Ficarem
Por esses dias algumas pessoas começaram a me procurar para me perguntar praticamente a mesma coisa. O que achei muito curioso, diga-se de passagem. Primeiro porque, provavelmente, estas pessoas devem ter visto o mesmo material para que tenham tido exatamente a mesma dúvida. Segundo, porque, todas as pessoas que me procuraram, tiveram a mesma sensação de estranheza em relação ao que havia sido afirmado por determinado pregador. A dúvida em questão era se haverá salvação na terra após o arrebatamento da Igreja de Cristo.
Bom, talvez isso não importe muito para aqueles que acreditam que o arrebatamento é uma coisa irrelevante e que não deveria ser motivo de atenção dos crentes, como dizem alguns pós-tribulacionistas. O que não deixa de ser compreensível dentro da perspectiva defendida por eles. Afinal, segundo essa visão, a Igreja de Cristo experimentaria toda a Tribulação até o último instante, e, somente depois de toda a Tribulação ter transcorrido, a Igreja seria “arrebatada” a uma determinada altura do céu, para, assim, descer ao chão, no segundo seguinte. Em outras palavras, não teria porque ficar falando sobre esse assunto, já que, na visão deles, seria um acontecimento sem muita importância, que não duraria mais do que cinco minutos do início ao fim do evento. Além de não haver um propósito real para isso ou haver qualquer alteração significativa no curso da história. Alguns pós-tribulacionistas, que ainda procuram algum propósito ou significado, para o seu tipo de arrebatamento, defendem que o evento seria importante para a “transformação do corpo humano” dos crentes arrebatados. Porém, os corpos dos crentes mortos e os corpos dos crentes vivos, poderiam ser ressuscitados e transformados e continuarem sobre a terra, sem a necessidade de subirem até a camada de ozônio para isso. Além disso, a ordem dos acontecimentos apresentada por Paulo em 1Tessalonicenses 4 e 1Coríntios 15, demonstra que a transformação dos crentes vivos acontece antes do arrebatamento aos ares, o que invalida esta suposição pós-tribulacionista. Ao unir os dois textos, observamos que a ordem dos acontecimentos, segundo Paulo, é: “Nem todos morreremos, mas transformados seremos todos, numa fração de segundos. Primeiro, os mortos em Cristo ressuscitarão incorruptíveis, em seguida, os vivos serão transformados, e, ambos, serão arrebatados juntamente para o encontro do Senhor” (1Co 15.51,52, 1Ts 4.16,17). Em outras palavras, primeiro vem a ressurreição e a transformação, e, somente depois, o arrebatamento. Não há qualquer razão para dizer que “é preciso subir para ser transformado”. Para falar a verdade, será por causa da transformação que a Igreja terá condições de subir com Cristo até o terceiro céu, mas este é outro assunto.
A impressão que se tem é que o pós-tribulacionismo minimiza a revelação neotestamentária do arrebatamento. Parece que, para o pós-tribulacionista, o arrebatamento não é algo significativo. Como se não chegasse a fazer parte de um momento importante dentro da agenda divina, como se fosse um evento profético irrelevante, para o qual não valha à pena dar muita atenção. É como se o arrebatamento fosse apenas um “evento de passagem”, que deverá acontecer, casualmente, no final da Tribulação. Erickson, de fato, parece assumir abertamente isso ao dizer que “o termo arrebatamento raras vezes ou nunca é usado pelos pós-tribulacionistas, embora o termo designe realmente o que acontecerá no fim da Tribulação” (1).
Assim, teoricamente, dentro do sistema pós-tribulacionista, poderia parecer que não há porque se preocupar com salvação “depois do Arrebatamento” já que, supostamente, não sobraria tempo hábil para que alguém confessasse ou negasse Jesus. Porém, a verdade é que, optar pela ideia pós-tribulacionista, não resolve, de fato, o problema. Primeiro, porque, quem opta por acreditar num suposto arrebatamento pós-tribulacional, ainda precisa dizer se haverá ou não salvação durante a Tribulação, e, em segundo lugar, o optante da ideia pós-tribulacionista ainda precisa decidir o que ele fará com o julgamento que, segundo Jesus, acontecerá na terra quando ele vier, depois do período tribulacional e imediatamente antes do início do reino milenar.
Em Mateus 25, Jesus disse que, “quando o filho do homem vier na sua majestade, ele se assentará no trono da sua glória e todas as nações serão reunidas em sua presença, e ele separará uns dos outros” (Mt 25.31,32). Nesta ocasião Jesus fará uma separação entre os que ele chama de “benditos” e “malditos”. A uns ele dirá: “Vinde, benditos de meu Pai! Tomem posse do reino” (Mt 25.34). Aos outros, ele dirá: “Apartai-vos de mim, malditos” (Mt 25.41).
Antes de falarmos em mais detalhes sobre a salvação durante o período tribulacional, seria interessante imaginarmos o que um adepto da ideia pós-tribulacionista diria sobre essa situação apresentada por Jesus em Mateus 25. Ora, se depois de toda a Tribulação Escatológica os justos seriam arrebatados, quem seriam aqueles “benditos do Pai” que não teriam sido arrebatados junto com os outros, e que teriam sido deixados para participar do julgamento que separará as pessoas para entrarem ou não no Milênio? As implicações geradas por este problema são fáceis de serem compreendidas. Se o arrebatamento realmente fosse depois da Tribulação, todos os justos seriam transformados e arrebatados para encontrar o Senhor nos ares. Com isso, nenhum justo sobraria na terra e não faria qualquer sentido o julgamento mencionado por Cristo em Mateus 25. Na verdade, a razão porquê Jesus falou sobre uma separação entre justos e injustos, no final da Tribulação, para se decidir quem entrará ou não no Milênio, é porque o Arrebatamento já terá acontecido há algum tempo.
Observe que você não pode dizer que “tanto faz acreditar no arrebatamento pré ou pós”, com a justificativa de que “o mais importante é se encontrar com o Senhor”, e depois afirmar que “não vai haver salvação durante a tribulação”. Afinal, se você iguala as duas interpretações e ao mesmo tempo desconsidera a futura separação entre os justos e injustos do período tribulacional, seu argumento não terá qualquer consistência. Se depois da Tribulação Jesus há de separar as pessoas que serão dignas de entrar no reino milenar, então, duas coisas tem que ser verdadeiras: o arrebatamento não pode acontecer simultaneamente a esta separação e deve ter havido salvação depois do Arrebatamento, durante os dias que precederam esta separação entre os que serão chamados de “benditos” e “malditos”.
Resumindo, é mais provável que o arrebatamento será pré-tribulacional, e, durante os anos seguintes, em meio aos flagelos do período de julgamento e ira divinos, muitos confessarão o senhorio de Jesus Cristo, tendo finalmente a chance de serem separados, no final da Tribulação, para entrarem no reino milenar do Senhor Jesus.
Tendo dito isso, nos voltemos agora para o assunto da salvação durante o período tribulacional.
Salvação durante a Tribulação
Algumas pessoas elegem alguns versículos isolados como a única fonte de informação sobre qual será a atitude dos homens durante o período tribulacional, e assim, concluem, precipitadamente, que não haverá salvação naquele tempo. Um dos versos comumente usados para esse tipo de abordagem é aquele que se refere ao juízo da quarta taça, quando o sol chegou a queimar os homens com fogo. O texto diz que “com efeito, os homens se queimaram com o intenso calor, e blasfemaram o nome de Deus, que tem autoridade sobre estes flagelos, e NEM SE ARREPENDERAM PARA LHE DAREM GLÓRIA” (Apocalipse 16.9). O fato deste texto, em particular, estar afirmando que estes homens não se arrependeram para dar glória a Deus, não significa que outros não tenham feito isso e que não tenha havido pregação ou incentivo, e possibilidade, para tal. De fato, um dos propósitos da Tribulação será promover uma derradeira conclamação aos homens para o arrependimento. Veja o que diz o versículo abaixo.
Apocalipse 14.6,7
6 Vi outro anjo voando pelo meio do céu, tendo um EVANGELHO ETERNO PARA PREGAR aos que se assentam sobre a terra, e a cada nação, e tribo, e língua, e povo, 7 DIZENDO, EM GRANDE VOZ: TEMEI A DEUS e DAI-LHE GLÓRIA, pois é chegada a hora do seu juízo; e ADORAI aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas.
Estas palavras, que serão proferidas naquele dia, não serão em vão. Não serão apenas palavras jogadas ao vento. Elas têm por objetivo causar temor no coração dos homens e assim conduzi-los ao arrependimento. Deus mesmo disse a João: “Darei às minhas duas testemunhas que profetizem por mil duzentos e sessenta dias, vestidas de pano de saco” (Apocalipse 11.3). As próprias roupas destes profetas do período tribulacional, de acordo com a cultura judaica, rementem seus ministérios à uma missão de lamento, proclamação de juízo e conclamação ao arrependimento. De fato, depois que estas duas testemunhas tiverem concluído o testemunho que devem dar, a Bíblia diz que elas serão assassinadas e seus corpos ficarão estirados no platô da cidade de Jerusalém (Apocalipse 11.8). Porém, depois de três dias e meio, eles serão ressuscitados à vista de todos e a consequência deste grande sinal será que os homens “ficarão sobremodo ATERRORIZADOS e DARÃO GLÓRIA AO DEUS DO CÉU” (Apocalipse 11.13).
Você vai encontrar partes do livro de Apocalipse mostrando homens de coração empedernidos, impenitentes, que blasfemam a Deus, e também vai encontrar outras partes mostrando homens temendo e glorificando a Deus, arrependidos. Se durante o período tribulacional não houvesse a presença de homens de Deus na terra, alguns textos ficariam completamente sem sentido. Lembre-se que no ressoar da quinta trombeta uma praga de gafanhotos venenosos subirá dos infernos para causar dano somente aos homens que “não tiverem o selo de Deus sobre a fronte” (Apocalipse 9.4). Note que o texto não está falando sobre homens de Deus que supostamente “tenham sido selados” antes do período tribulacional. O livro de Apocalipse se refere “ao selo de Deus” que será posto sobre os 144 mil judeus celibatários, oriundos das 12 tribos de Israel, que terão a missão de proclamar às nações da terra a verdade a respeito de Cristo (Apocalipse 7.1-9, Apocalipse 14.1,4). De fato, João diz o seguinte: “Vi outro anjo que subia do nascente do sol, tendo o SELO DO DEUS VIVO, e clamou em grande voz aos quatro anjos, aqueles aos quais fora dado fazer dano à terra e ao mar, dizendo: Não danifiqueis nem a terra, nem o mar, nem as árvores, ATÉ SELARMOS NA FRONTE OS SERVOS do nosso Deus” (Apocalipse 7.2,3). Estes homens não entrarão na Tribulação já sendo possuidores de algum tipo de “selo divino”, observe que eles serão selados em meio aos acontecimentos do período tribulacional, entre os castigos do sexto selo e os flagelos da primeira trombeta (Apocalipse 6.12, Apocalipse 8.7).
Depois que aqueles 144 mil homens de Deus foram separados para o serviço durante o período tribulacional, João disse que viu “uma grande multidão de salvos que não seria possível contar”. Fica implícito no texto que esta multidão tenha sido salva por meio daqueles servos de Deus que, na primeira parte do capítulo, haviam sido selados. O capítulo sete de Apocalipse fala de um número limitado de judeus sendo selados para um serviço, e depois, fala de uma multidão incontável de pessoas oriundas de todas as nações da terra, que estavam sendo salvas. Ao relatar sua conversa com um dos anciões celestes, João disse que o ancião lhe explicou que os indivíduos daquela multidão “são os que vêm da grande tribulação, e lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro” (Apocalipse 7.14). Leia atentamente o capítulo sete de Apocalipse e observe que ele não está falando sobre salvação durante o período da Igreja, pois ele faz uma clara distinção entre os judeus enumerados e os gentios impossíveis de enumerar. Uma das marcas da era da Igreja é justamente a indistinção entre judeus e gentios crentes. Aquele será um tempo diferente, depois que o tempo da Igreja houver encerrado e o juízo de Deus estiver sendo derramado na terra.
Antes mesmo da execução dos últimos sete flagelos da Tribulação, a Bíblia diz que João viu “um mar de vidro, mesclado de fogo, e OS VENCEDORES DA BESTA, da sua imagem e do número do seu nome, que se achavam em pé no mar de vidro, tendo harpas de Deus” (Apocalipse 15.2). Depois, um pouco antes do início do reino milenar, João diz que viu pessoas que haviam sido decapitadas por causa do testemunho de Jesus e por causa da palavra de Deus, e afirma ainda que estes eram aqueles que “NÃO ADORARAM A BESTA, nem tampouco a sua imagem, e não receberam a marca na fronte e na mão” (Apocalipse 20.4). Estes vencedores da Besta, serão aqueles que tiverem abraçado a fé mesmo durante o período tribulacional.
A Bíblia diz que logo no início da Tribulação, após o rompimento dos quatro primeiros selos de juízos, haverá guerra generalizada entre os homens, uma grande escassez e fome e também mortes por meio de pragas e pestes (Apocalipse 6.1-8). Muitos homens maus morrerão, porém, muitos justos também estarão entre aqueles que perderão suas vidas. De fato, o texto a seguir relata exatamente este aspecto da primeira metade do período tribulacional.
Apocalipse 6.9-11
9 Quando ele abriu o quinto selo, vi, debaixo do altar, as almas daqueles que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que sustentavam. 10 Clamaram em grande voz, dizendo: Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra? 11 Então, a cada um deles foi dada uma vestidura branca, e lhes disseram que repousassem ainda por pouco tempo, até que também se completasse o número dos seus conservos e seus irmãos que iam ser mortos como igualmente eles foram.
O texto diz claramente que estas pessoas foram mortas por causa da sua fé na palavra de Deus. O clamor destas pessoas parece indicar que seus assassinos ainda estariam vivos sobre a terra, indicando uma possível morte recente. São santos e mártires da Tribulação, que embora tenham sido mortos, foram salvos e estavam com Deus em sua morte.
Há muitos textos que afirmam que haverá salvação durante a Tribulação. Quando o anjo Gabriel falou para Daniel sobre este futuro tempo da ira, ele disse o seguinte:
Daniel 12.1
Nesse tempo, se levantará Miguel, o grande príncipe, o defensor dos filhos do teu povo [Daniel], e haverá tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até àquele tempo; mas, NAQUELE TEMPO, SERÁ SALVO O TEU POVO, todo aquele que for achado inscrito no livro.
O texto acima está afirmando claramente que o povo de Daniel, o povo judeu, será salvo durante a Tribulação. Paulo também acreditava que chegará um dia em que “todo o Israel será salvo, como está escrito: Virá de Sião o Libertador e ele apartará de Jacó as impiedades” (Romanos 11.25,26). Paulo estava se referindo ao final da Tribulacão, quando o Senhor Jesus virá do céu, matará o Anticristo com o sopro da sua boca, e estabelecerá o seu reino na terra por mil anos.
O arrebatamento não é sinônimo de salvação. Os salvos que estiverem vivos na ocasião do arrebatamento, serão arrebatados, mas a salvação não depende do arrebatamento. Muitas pessoas do Antigo Testamento viveram e morreram sem sequer terem ouvido falar qualquer coisa sobre “arrebatamento”, e mesmo assim, muitas delas foram salvas antes da sua morte. Enquanto a pessoa estiver viva, ela pode fazer as pazes com Deus. Não importa em que época ela viva, se antes ou depois do Arrebatamento da Igreja. Ter a chance de se arrepender após o arrebatamento não significa que a pessoa terá uma “segunda chance”, pois isso não existe. Não existem “duas oportunidades” para se fazer as pazes com Deus. Toda pessoa humana que já passou ou passará pela terra, só tem UMA CHANCE, uma única oportunidade de se arrepender e ser salva, pois “aos homens está ordenado morrer uma só vez, vindo depois disto o juízo”. Enquanto a pessoa estiver viva, ela ainda tem a chance de se arrepender, e ser salva.
As Escrituras ensinam que muitas pessoas se arrependerão e lavarão suas vestes durante o período tribulacional. Muitos se converterão passando a temer a Deus e abraçarão a fé de que Jesus é o Cristo. Alguns serão perseguidos e mortos, alguns até serão decapitados pelo seu testemunho de fé durante aquele período, mas, mesmo os que morrerem, terão vencido a Besta e não terão se submetido à sua influência religiosa, política ou militar. Aqueles que vierem a crer e sobreviverem aos flagelos do período tribulacional, verão os céus abertos e Jesus vindo sobre as nuvens, com poder e muita glória. E, quando o Senhor Jesus vier, depois de toda a tribulação, ele julgará os povos de todas as nações da terra, e alguns serão punidos, enquanto outros serão absolvidos. Estes que serão absolvidos, terão passado pela Tribulação, sem terem sido arrebatados, e, mesmo assim, serão separadas dos povos do mundo e serão chamados de “benditos do pai”, pois serão dignos de tomar posse do reino ao lado de todos os outros justos de todas as eras.
1 ERICKSON, M.J. Escatologia, a polêmica em torno do Milênio, 2ª Edição São Paulo, SP: Vida Nova, 2010 (Página 180).
1 Comment
Fantástica a tua explicação!