Glutão e Bebedor de Vinho
PERGUNTA
Natan, aqui no dicionário de Strong, diz que Jesus foi chamado de beberrão. O termo grego se refere a quem toma bebida embriagante. Não teria lógica o povo chamar ele de “beberrão” se ele estivesse tomando apenas o “suco de uva”, sem qualquer teor alcoólico, certo? Afinal, os odres, que o próprio Jesus mencionou em certo momento em uma de suas falas, não eram usados para manter a fermentação?
RESPOSTA
Realmente, Jesus foi chamado de muitas coisas, mas nem tudo do que o chamaram, ele de fato, foi. Lembre-se que, na mesma ocasião, também disseram que ele “era glutão”, mas isso não quer dizer que ele, de fato, o fosse. Em outra ocasião disseram também que Jesus “tinha demônio” (João 7.20), mas não é porque disseram isso dele, que ele realmente tivesse. Vamos olhar o texto mais de perto.
Dizer que Jesus era um “beberrão de vinho” porque o acusaram de fazer isso, seria basicamente a mesma coisa de dizer que “precisamos orar pedindo fé a Deus” apenas porque os discípulos de Jesus também pediram. A Bíblia registra palavras proferidas até por Satanás, mas isso não transforma as palavras de Satanás em “divinamente inspiradas” ou “autorizadas” só porque aparecem no Livro Sagrado. Satanás não foi inspirado a dizer o que disse, para que suas palavras estivessem na Bíblia, mas quem escreveu o texto, foi inspirado a escrever o que Satanás disse. Os discípulos, ainda sem muito conhecimento sobre o assunto, expressaram seus sentimentos pedindo fé a Jesus quando Jesus lhes explicava sobre a capacidade de perdoar alguém por meio da fé, mas a forma bíblica pela qual a fé vem ao coração do homem não é a través da petição ou da oração e sim através da palavra de Deus. Da mesma forma, as acusações dos opositores de Jesus não revelam absolutamente nada sobre Jesus; suas palavras apenas revelam o caráter deles mesmos. O fato é que Jesus não tinha demônio, não era glutão, nem bebia vinho alcoólico.
Outra coisa importante sobre a passagem em questão, é que, quando Jesus foi acusado de ser “bebedor de vinho”, isso tem que ser entendido dentro daquele contexto e não pela cabeça de quem vive em nosso tempo e gosta de beber “um copinho de vez em quando”. Primeiro, o que o texto está ensinando é que Jesus se misturava com as pessoas e andava no meio delas. Ele não era um ermitão como João Batista. O fato é que João Batista “vivia em jejum” e era considerado um profeta, porém, apareceu Jesus “comendo e bebendo”, e, alguns, comparando-o com João, começaram a achar que isso o desqualificava e chegaram até mesmo a dizer que ele era “glutão e bebedor de vinho”. Nos versículos 31 e 32, ao falar sobre os faladores que o acusavam, Jesus disse: “esse povo não sabe o que quer, são iguais meninos que ficam reclamando de tudo: cantam e não se alegraram, lamentam e não choraram”. A comparação é justa porque João Batista não comia e não bebia, e, por isso, disseram que ele tinha demônio; aí vem Jesus, comendo e bebendo, e, por isso, disseram que ele era glutão e beberrão. Em outras palavras, não importava o que fosse feito, eles sempre reclamariam e julgariam mal o comportamento dos homens de Deus. Nem João Batista tinha demônio, nem Jesus era glutão e bebedor de vinho alcoólico.
O simples fato de Jesus se misturar com o povo pecador e fazer refeições com eles em certas ocasiões, não significa que ele bebesse o mesmo tipo de bebida que os pecadores bebiam. Porém, seus opositores usavam isso para caluniar e difamar Jesus. O que estava acontecendo ali, era, basicamente, o mesmo tipo de preconceito que há hoje em dia nos círculos religiosos, mas, não há qualquer texto que diga que Jesus bebeu “vinho” ou qualquer outro tipo de bebida alcoólica.
Em relação aos odres, eles não eram usados para “manter a fermentação”. Na verdade, era exatamente o contrário. O odre era usado para manter o vinho fresco, sem a fermentação, o máximo de tempo possível. Era um recipiente “hermeticamente fechado” cujo objetivo era fazer com que o “vinho” tivesse o menor contato possível com o ar, para assim retardar a fermentação do suco. Uma coisa importante de se dizer é que a palavra “vinho” era usada indistintamente para o que nós hoje chamamos de “suco” e o que chamamos de “vinho alcoólico”. Por isso, só o contexto pode deixar claro de que “vinho” a passagem esteja falando. A expressão “vinho novo”, por exemplo, se refere ao puro suco da uva, antes de qualquer fermentação e o “vinho velho”, é o vinho que já está em processo avançado de fermentação ou já fermentado.
Embora a realidade daquela época seja diferente da nossa e o vinho daquele tempo não fosse tão alcoólico como os de hoje em dia, que são modificados industrialmente para possuir um teor alcoólico muito maior que nos tempos antigos, ainda assim, alguns evitavam beber o vinho alcoólico justamente para não serem julgados como “bebedores de vinho”. Porém, a precariedade sanitária da época era muito grande e alguns acabavam ficando doentes, e, para matar algumas bactérias da água daquele tempo, eles misturavam a água com um pouco de vinho, como Paulo aconselhou Timóteo a fazer. As propriedades medicinais que fazem bem ao corpo humano não se encontram no álcool do “vinho tinto”, como alguns costumam dizer, mas na UVA que fora usada para fazer o vinho tinto.
Penso que não há base bíblica para justificar a ingestão de bebida alcoólica pelos crentes. Por outro lado, esse texto não tem a intenção de fazer qualquer pessoa parar de beber, seja publicamente, seja escondido dentro de casa.
Para informações mais detalhadas sobre esse assunto, leia este texto.