Esperança em Deus!
JÓ 35.9-13
9 Por causa das muitas opressões, os homens clamam, clamam por socorro contra o braço dos poderosos.
10 Mas ninguém diz: Onde está Deus, que me fez, que inspira canções de louvor durante a noite,
11 que nos ensina mais do que aos animais da terra e nos faz mais sábios do que as aves dos céus?
12 Clamam, porém ele não responde, por causa da arrogância dos maus.
13 Só gritos vazios Deus não ouvirá, nem atentará para eles o Todo-Poderoso.
14 Jó, ainda que dizes que não o vês, a tua causa está diante dele; por isso, espera nele.
Este texto belíssimo faz parte de um sábio discurso proferido por um dos amigos de Jó que o aconselhava sobre Deus. Este trecho também foi escolhido pelo querido irmão Josué Rodrigues para a composição de uma bela música que tem por letra os versículos que lemos acima. Enquanto fazia uma breve viagem com minha esposa ouvindo a referida música, o Senhor ministrou fortemente ao meu coração o que venho compartilhar com vocês aqui nessa postagem.
As opressões mencionadas no texto se referem aos maus tratos e injustiças por parte daqueles que detém o poder em suas mãos. Infelizmente o texto não é apenas uma construção poética “sem eira nem beira” desprovida de sentido prático; mas retrata aquilo que tem se repetido geração após geração em todas as nações da terra. A ganância pelo poder e o poder para oprimir são marcas recorrentes de alguns dos homens que tiveram a oportunidade de ocupar posições de autoridade ou de grande influência social. Cada um prestará contas diante de Deus pela sua própria vida, inclusive os poderosos, que aqui são citados no texto bíblico, mas antes que esse dia chegue, os homens debaixo desta influência, muitas vezes esmagadora, sofrem e se esforçam para permanecer em paz com Deus diante de tantas injustiças e opressões.
“Os homens clamam por socorro contra os poderosos”. O texto sagrado não nega a necessidade de socorro, não diz que a opressão é irreal, não supõe que há exagero por parte daqueles que estão clamando por ajuda, pelo contrário, a própria narrativa deixa claro que todo sofrimento é real, que existe uma opressão, e que isso não deveria ser assim. No entanto, mesmo reconhecendo a realidade da injusta opressão por parte dos poderosos, o Espírito Santo sussurra discretamente: “mas ninguém diz onde está Deus que me fez?”.
O texto não se refere a uma simples pergunta superficial de quem argumenta em suas murmurações cotidianas: “ah meu Deus, misericórdia, onde isso tudo vai parar?” ou “ah Senhor, faz alguma coisa para mudar essa situação”. Parece-me que o texto se refere a um sentimento bem mais profundo de dependência ao Deus Todo Poderoso, que deveria estar presente no coração dos injustiçados e oprimidos. Penso que é por essa razão que ele diz “onde está o Deus QUE ME FEZ”.
Se ele me fez, se fui inventado por ele, se sou criação sua, posso me apropriar da perspectiva que ele, de certa forma, é responsável por mim, e assim sendo, descansarei espiritualmente e emocionalmente nele, pois ele cuidará dos que são seus.
Fica ainda mais evidente que este é o sentido do texto, pois após ter dito “onde está o Deus que me fez?”, em seguida ele acrescenta: “que NOS ENSINA MAIS DO QUE aos animais da terra e nos faz MAIS SÁBIOS DO QUE as aves dos céus”. Creio que a comparação proposital entre os homens oprimidos que clamam com os animais e as aves, tem um objetivo específico definido.
Assim como as aves e os animais, os homens também foram feitos por Deus, como inclusive o próprio texto diz claramente. E o sentido é que da mesma forma como Deus cuida dos animais e das aves, ele cuidará de todas as suas criaturas. Porém, como diria Jesus: “Valeis bem mais do que muitos pardais” (Lucas 12.7). Exatamente por isso o texto acima diz “Deus nos ensina mais do que os animais e nos faz mais sábios do que as aves”.
A princípio tal declaração poderia parecer absurda, pois, afinal de contas, todo mundo sabe que “qualquer ser humano é mais sabido do que um bicho”. Alguém poderia desabafar antes de pensar um pouco mais: “Claro que os homens são mais sabidos do que os passarinhos!”. Mas eu penso que para entendermos o espírito do texto, precisaremos meditar sobre o texto em espírito.
Qualquer dia ponha sua televisão em um canal especializado em detalhar os segredos da fauna e da flora. Passe algumas horas assistindo algum documentário que se dedique a explicações e mais explicações sobre o ciclo de vida e subsistência dos animais da terra. Mesmo que você seja tentado a mudar para um canal de ação ou filmes policiais, decida-se a passar pelo menos uma ou duas horas vendo as programações dos canais voltados exclusivamente para a vida animal. Depois de certo tempo você achará no mínimo curioso, o fato de canais assim existirem por tanto tempo, com tantas programações diversificadas, sem nunca esgotarem o conteúdo.
Os sistemas de orientação nos processos migratórios das aves, os processos de reprodução e sobrevivência, os tipos de comidas preferidas por cada bicho, os códigos de convivência em bandos da mesma espécie, e também os limites de respeito e tolerância na relação com espécies diferentes. De onde veio a programação para dentro da cabeça daquela pequena ave que mergulha no mar para buscar seu alimento no ambiente dos peixes? Quem saberia explicar porque em uma mesma família de aves de rapina algumas mantêm hábitos alimentares necrófagos enquanto outras da mesma família se dedicam à caça de animais vivos? Quem instruiu tais aves de que o suco gástrico delas poderia ser imune a um dos venenos mais poderosos da terra provenientes de carne em estado de putrefação? Deus, o Todo Poderoso, ensinou a todos os animais da terra! Deus concedeu sabedoria às aves dos céus! O texto está tentando nos alertar para o fato de que o ensino e a sabedoria de Deus estão disponíveis em maiores medidas para os homens que realmente se importam com o seu conselho e orientação.
Então, no texto em pauta, o Espírito Santo desabafa sutilmente expressando um descontentamento presente no coração do Todo Poderoso: “Os homens sabem clamar por socorro contra os poderosos, mas ninguém se pergunta onde está Deus, que os fez, e que é capaz de inspirar hinos de louvor nas horas mais escuras de qualquer noite”.
No versículo 12 vem uma declaração forte e constrangedora, mas pode ser transformada em abençoadora se produzir o arrependimento: “Os homens clamam por socorro contra os poderosos, MAS DEUS NÃO RESPONDE, por causa da arrogância dos maus”.
A primeira coisa que precisamos entender é que os “maus e arrogantes” do versículo 12 não se refere aos poderosos opressores, e sim aos homens oprimidos que estão clamando por socorro. Sim, é possível estar sendo oprimido e ser arrogante. É possível estar sendo oprimido e ser mau. Assim como nem todo homem poderoso é essencialmente mau, nem todo homem oprimido é essencialmente bom.
Tais homens clamam por socorro contra as injustiças praticadas pelos poderosos, mas Deus não os responde por que são arrogantes e maus! O fato de estarem sendo oprimidos não fará necessariamente com que sejam aceitáveis diante de Deus. O fato de estarem clamando por socorro não obrigará Deus a respondê-los. Homens ainda que oprimidos, que sejam arrogantes e maus, se clamam por socorro, clamam em vão, pois para outros homens seus gritos podem fazer muito barulho, mas para Deus não passam de “gritos vazios” (Versículo 13).
Os homens clamam, os homens gritam. Porém, Deus não responde. Deus não ouvirá, nem atentará para eles o Todo Poderoso. Não ter a atenção de Deus para os seus problemas, para as suas necessidades deve ser deprimente. Poderia existir coisa pior nesta vida?
As Escrituras Sagradas estão cheias de passagens que mostram que Deus não responde a toda e qualquer oração que lhe é dirigida. Não é porque clamam que ele ouvirá. Não é porque querem que ele atenderá. O texto de Jó que estamos lendo diz “clamam, mas Deus não responde” (verso 12). Eles não falam baixo, na verdade são gritos, mas são gritos vazios, e a isto “Deus não ouvirá” (verso 13). Não prestará atenção neles o Todo Poderoso! (verso 13).
Pedro explica que existem atitudes que podemos manter em nossa vida que são capazes de “interromper as nossas orações” (1 Pedro 3.7 ). Pedro também diz que os ouvidos do Senhor estão abertos às súplicas de homens justos, mas que o seu rosto é contra os que praticam males (1 Pedro 3.12). Tiago diz que muitos cristãos pedem coisas a Deus, mas não recebem porque pedem de uma forma má, com o objetivo egoísta de desfrutarem de prazeres particulares (Tiago 4.3). Sim, amados irmãos, Deus também não responde. Existem alguns pré-requisitos bíblicos para se ter uma vida de oração eficaz; e nem sempre é tarde demais para iniciá-la… nem sempre.
Finalmente, mas não menos importante: Ainda que dizes que não o vês, A TUA CAUSA está diante dele! POR ISSO, espera NELE! Por isso, espera em Deus.