DEUS PREDESTINA PESSOAS PARA SEREM VASOS DE DESONRA?
Outro dia recebi o comentário de um crente que dizia o seguinte: “Quem somos nós para questionar o Criador? O oleiro faz do seu vaso o que quiser, isto é a soberania de Deus. Suas mensagens falam apenas de seres humanos decidindo o que lhes é conveniente”.
De vez em quando nos deparamos com pessoas fazendo afirmações rabugentas com o propósito de “defender a soberania de Deus”. Não há qualquer problema em se proferir afirmações fortes e contundentes, mas, em alguns casos, tais pessoas estão apenas expressando sua revolta pelo fato de ainda existir sobre a terra pessoas que pensam.
Infelizmente é muito comum encontrarmos pessoas que sustentem esse conceito distorcido da soberania de Deus. Eles não aceitam que o próprio Deus determine seus limites, se é que ele os pode ter, dentro das concessões teológicas estabelecidas por esses faladores. Muitos destes “defensores de Deus” sequer aceitam que Deus possui limitações. Algumas delas auto impostas, obviamente, mas ainda assim, são limitações reais e tratam sobre coisas que Deus simplesmente não pode fazer. Há muitos textos bíblicos que poderiam ser usados na construção da ideia de que Deus não pode fazer certas coisas, porém, para não divagarmos tanto e procurando mais objetividade, vamos usar apenas os textos mais explícitos. Em Tito 1.2 Paulo disse que “Deus não pode mentir”. Em outra ocasião também afirmou que “Deus não pode negar-se a si mesmo” (2Timóteo 2.13). Isso significa que não pode existir variação ou qualquer sombra de mudança no caráter de Deus (Tiago 1.17). Isso quer dizer também que há uma imutabilidade em seus propósitos, uma vez que é impossível que Deus minta (Hebreus 6.17,18). Deus não pode mudar! Poderíamos até dizer que a percepção humana sobre o caráter de Deus tenha sofrido alguma alteração desde os tempos do Antigo Testamento para os dias da Nova Aliança, porém, o Deus percebido tem sido sempre o mesmo, imutável.
Textos como os que foram citados acima, nos mostram “coisas que Deus não pode”. Sei que alguns poderiam sugerir que também deveríamos mencionar o texto de Tiago 1.13, onde se diz que “Deus não pode ser tentado”, todavia, o texto não está falando sobre impossibilidades divinas e sim sobre atitudes humanas. Não vamos falar sobre isso nesse texto, mas a passagem não está falando sobre “ser impossível tentar a Deus”. Tiago, na verdade, está advertindo aos homens dizendo que eles não devem fazer isso. Tiago está simplesmente dizendo “Deus não deve ser tentado”, ou, como já se dizia em outros lugares: “Não tentarás o Senhor teu Deus”. O texto está falando sobre “não poder” no sentido de “não dever”. Não é uma questão de “Deus não poder”, e sim do “homem não dever”.
O fato é que Deus, em sua soberania, se auto limita dentro das suas próprias condições. Não pode mentir, não pode mudar e não pode fazer qualquer outra coisa que fira sua natureza e contradiga as verdades publicadas por ele mesmo em sua auto revelação ao mundo. Se Deus fizesse qualquer coisa que fosse contrária ao que ele nos revelou, ele estaria indo contra si mesmo, e como já sabemos, ele “não pode negar-se a si mesmo”.
Sendo assim, será mesmo que Deus determina os padrões de comportamento dos homens, um a um, individualmente, fazendo-os ser “vasos de honra” ou “vasos de desonra”, de acordo com a interpretação fatalista destes termos? Será que o mesmo Deus que estabelece que todos deveremos prestar contas de nós mesmos diante dele, também pré-determina o que cada um fará ou não fará, por toda a sua vida, antes desta prestação de contas? Essa ideia não parece um tanto quanto diabólica para você? Sim, eu sei, parece diabólica, porque realmente é.
Aqueles que citam Deus como um oleiro que “faz as pessoas serem vasos de honra ou de desonra”, dando a entender com isso que as pessoas são o que são, porque Deus quis, estão apenas demonstrando sua ignorância em público. Normalmente, o texto mal compreendido e citado fora do seu contexto que esse povo usa para defender essa ideia, se encontra em Romanos 9.21.
Romanos 9.20-21
20 Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim? 21 Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro, para desonra?
O contexto desta passagem pede uma explicação mais detalhada sobre o assunto, mas não faremos isso aqui. Você pode assistir a mensagem “Romanos 9, versículo por versículo” em nossas mídias, se tiver interesse. Porém, o erro se encontra no fato de que alguns irmãos não estão sendo capazes de entender o raciocínio apresentado por Paulo. Quando Paulo diz que o objeto não pode perguntar a quem o fez, por que ele fora feito do jeito que é, ele não está falando sobre o estado espiritual ou moral dos seres humanos individualmente. Ele não está insinuando que somos como objetos, feitos do jeito que somos, pela imposição da arbitrariedade divina. Ele está apenas usando uma ilustração simples de que, assim como é impossível para um objeto questionar o artífice, da mesma forma o homem NÃO DEVE DISCUTIR com Deus. Não é impossível que o homem questione a Deus como é impossível para um objeto falar, porém, Paulo usa isso como ilustração para afirmar que é tolice querer “ensinar a Deus como fazer as coisas”. Paulo não tem a intenção de afirmar que somos como objetos ou que agimos como agimos porque Deus o predeterminou.
Quando Paulo menciona “o direito do oleiro sobre a massa”, ele não está insinuando qualquer tipo de “direito que Deus supostamente tenha para criar pessoas más”. Não é Deus quem faz os homens serem maus. As ações humanas não são consequências inevitáveis de uma obstinação divina.
O texto de Romanos 9, como um todo, na verdade, está afirmando que há coisas que agradam a Deus e coisas que Deus não gosta. Coisas que alegram o seu coração e outras que despertam a sua ira. O texto está simplesmente dizendo que Deus é misericordioso para com alguns e não para com todos, pois Deus não quer abençoar quem merece a maldição. Paulo ao argumentar sobre o preciosismo e rancor dos judeus, simplesmente afirma que alguns homens podem até espernear contra os critérios divinos para expressar sua bondade e misericórdia aos homens indistintamente, porém ele lembra que Deus continuará livre para ser compassivo para com todos os que ele quiser ser. Paulo está demonstrando que Deus não será subjugado aos padrões judaicos de justiça.
Qualquer homem que humildemente se submeter aos padrões divinos, poderá ser perdoado e galardoado. Será santificado e útil no plano e na obra de Deus. Em outras palavras, através das suas escolhas e da vida que vive, qualquer homem pode transitar entre as classes de “honra” e “desonra” preestabelecidas. Exatamente por isso o mesmo Paulo afirma que “numa grande casa não há somente vasos de ouro ou de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra. Se alguém se purificar de certas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra” (2Timóteo 2.20,21).
Embora seja comum que, como crentes, atribuamos graças a Deus por toda experiência positiva que possamos experimentar, nunca é demais enfatizar o fato de que a frase de Paulo no verso acima foi “se alguém se purificar”. Ele não disse: “Deus o purificará”. Não, a pessoa se purifica. Além disso, observe a condicionalidade da coisa toda: “Se alguém se purificar…”. Quem pode garantir que haverá arrependimento? Quem pode garantir que o cristão buscará essa mudança? Não podemos prometer ou garantir tal transformação na vida de pessoa alguma. O que podemos afirmar é exatamente aquilo que já foi dito: SE alguém SE purificar, será VASO para HONRA. Não há cabrestos do destino, não há manipulação ou despotismo divino. O que há são as realidades e as possibilidades de uma vida que pode ser transformada e consequentemente abençoada por Deus.
Não há motivos para pensar que é o fim da sua vida. Não importa o quão convencido você esteja de que seu destino é a desgraça e a desonra sem fim. Se você decidir mudar e aceitar passar pelo processo, você poderá ser purificado, santificado, e, finalmente, se transformará num vaso útil e idôneo para a obra do Senhor. Não aceite estas ideias que te fazem pensar que não há coisa alguma que possa ser feita para causar uma mudança em sua vida. Saia das trevas e vem pra luz.
1 Comment
A paz de nosso Senhor Jesus Cristo, querido pastor Natan Rfino.
Que texto maravilho e bem esclarecedor. Que Deus continue te abençoando poderosamente através da Palavra genuína.